06/04/2010

Palavras de cozinha: desabafo

Outro dia me ligou uma simpática jornalista querendo que eu falasse sobre cozinha vegetariana, cozinha natural e cozinha orgânica. Ela ficou bem decepcionada com minhas breves opiniões, pois não posso me estender sobre o que, na minha opinião, não existe. Não tenho a capacidade de Borges para discorrer sobre o inexistente.

Mas fiquei pensando como essas revistas pautam coisas que não existem e os jornalistas têm que fazer um esforço enorme para dar concretude ao tema. E como as chamadas “fontes” (veja a que tentam me reduzir!) acabam se conformando a essas pautas malucas, passando a atrelar sua existência ao inexistente. É assim que tudo desaparece, subsumido nas editorias fantasiosas de gastronomia.

Outras vezes me ligam para eu falar sobre um tema que escrevi no blog. Por que? Por que as palavras escritas não bastam? Que espécie de superioridade é essa que se atribui ao loquaz? Só posso me repetir, mas por que me repetir?

Vamos combinar: o que escrevo aqui é o que penso; e o que penso sobre gastronomia geralmente escrevo aqui, ou nos livros que publico. Gosto de falar sobre o tema, é claro, mas não gosto de me repetir. Passa uma péssima impressão, não é? Prefiro escrever, pois me permite pensar mais sobre as palavras.

1 comentários:

Guiomar disse...

Adoro ler o que o senhor escreve. Além de ser muito bem escrito (como se já não fosse muito), é de uma integridade intelectual, de uma ausência de adornos inúteis ou ostentação vazia de "saberes" que me diverte e comove. Obrigada. Guiomar

Postar um comentário