08/12/2010

O terroir e sua determinação - II

Duas idéias com livre curso na enologia me parecem muito estranhas:

1.Quanto menor a interferência do trabalho humano, mais o terroir se expressa
Comento: nessa concepção, terroir é tomado só como geografia (solo, clima, enfim, nutrição). Para os que pensam assim, nunca é demais recordar as reflexões de Adam Smith, já em 1776:
“A diferença dos solos afeta a videira mais do que qualquer outra árvore frutífera. De alguns resulta um sabor que não se consegue em nenhum outro cultivo ou método de manejo. O sabor, seja real ou imaginário, é muitas vezes típico da produção de uns poucos vinhedos; às vezes se estende pela maior parte de um pequeno distrito, e às vezes por uma parcela considerável de um distrito grande. A totalidade desses vinhos, quando levados ao mercado, não consegue atender à demanda efetiva[...]. Por causa disso, estes vinhedos são em geral cultivados de maneira mais cuidadosa do que os demais, e o alto preço dos vinhos parece ser não o efeito, mas a causa desse cultivo mais cuidadoso”.

Como bom economista, ele sabia que, em qualquer condição natural, qualquer geografia, é o trabalho humano o fator determinante que se expressa nos produtos.


2.A excelência de um vinho depende da perfeita harmonia entre três elementos: a vinha, o homem e a natureza.

Pergunto: por que a vinha e o homem são postos “fora da natureza”? Por que a harmonia é superior ao conflito? Não seria o caso de assumir, como em qualquer outro ramo da atividade humana, que o homem está no centro do trabalho de transformação, dominando aqueles aspectos da natureza (a vinha inclusive) que efetivamente conformam o produto? Assim, quando maior domínio dos ciclos e fenômenos naturais, mais esta obra artificial (fruto do artifício humano, está claro) se torna expressão do artista que a imaginou no cérebro, antes de torcer e vergar a natureza, arrastando-a até lá.

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