27/10/2011

Leitor de 5ª - Cachaça não é água não

Há um esforço muito grande em valorizar a cachaça. Mais um passo foi dado no restaurante Mocotó, numa degustação comandada pelo mineiro-expert Mauro Alves, com Manoel Beato e Leandro Batista, com o objetivo de elaborar a capa de hoje do Comida. O foco foi na madeira em que descansaram ou “envelheceram”.

Confesso que não sou muito de cachaças (confissão que me valeu um olhar atravessado de Rodrigo Oliveira). Talvez eu seja mais do rum (cujas diferenças com a cachaça poucos apreciadores desta sabem quais são) e, certamente, mais do conhaque e do uísque. Seja como for, essa investigação das madeiras brasileiras era necessária em algum momento, e chegarmos a um juízo sereno sobre elas é coisa mais que bem vinda antes que as ditas-cujas (madeiras) acabem.

Paladar concede a capa à castanha do pará. Curioso que, parece, Comida vai se especializando em produtos elaborados (cuscuz, cachaça, etc) e Paladar em ingredientes in natura (jabuticaba, castanha do pará). Mas ambos vão ficando monotemáticos. Acabarão por cansar, se não conseguirem inaugurar novos veios a explorar. Aliás, a Publifolha acaba de lançar um livro sobre...ingredientes! A notícia está no Comida, claro. Não sei quantos são nem quais, mas a matéria-resenha diz que são 200 receitas e 2.500 fotos. Para que tanta foto?

A matéria fala de um castanhal “sustentável” em Itacoatiara. Desconhece porém que a arqueologia dos povos da floresta já admite como certo que os castanhais ditos “nativos” são, na verdade, fruto do manejo florestal. Há castanhais de árvores alinhadas com mais de 500 anos. Já eram "sustentáveis" antes dos eco-sustentabilistas atuais...

Olivia Fraga deu-se ao trabalho de contar quantos golpes as mulheres que descascam castanhas dão em cada uma. Eu já havia feito essa contagem em 2009 e cheguei a valores diferentes, mas identifiquei dois tipos de descasque também diferentes: para consumo imediato e para levar em saquinhos. A contagem de Olivia, me parece, refere-se apenas àquelas batedoras que ficam nas ruas em torno do Ver o peso, atendendo ao consumidor imediato, não nas barracas internas.

Ainda no Paladar, matéria de Breno Raigorodsky sobre os embutidos, nova especialidade desse juiz de vinhos. Nos vinhos, Luiz Horta centra na família Torres, com vinhos na Espanha, Chile e Califórnia). No Comida, a moça que substituiu Jorge Carrara nos fala dos vinhos brancos (chardonnay) que não passam por madeira.

No Comida, o texto da Alexandra Forbes mostra como gosta de ser gastrovictim, essa espécie de fashionvictim que alia a voracidade a uma boa dose de globerotterismo. Tempos pós-modernos.

1 comentários:

Breno Raigorodsky disse...

Carlos Alberto, minha paixão por embutidos, longe de ser uma especialidade, é algo comparável com a sua por cuscus! É apenas uma curiosidade interessada que, por oportunidade, pode ser mais ou menos profunda.
Quanto à matéria da FSP sobre cachaça: ela revela o linha editorial superficial e juvenil que costuma definir o nosso tão lido diário. Inócuo, incerto, sem qualquer rigor.

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