Lê-se, de Henrique Oliveira, engenheiro da Buhler, multinacional suíça (revista Dinheiro Rural, janeiro 2012, pág. 82), o seguinte:
“O céu é o limite para quem aposta na fabricação de alimentos a partir de subprodutos. Mariscos misturados com outros ingredientes e grão de bico podem se transformar em snacks, a proteína texturizada da soja pode ser ingrediente-chave na produção de almôndegas, o farelo da soja é um produto rico, de fácil preparo e que é utilizado com sucesso na ração animal (...) cabe à industria buscar o melhor aproveitamento dos produtos que ela fornece ao mercado”.
Sr. Henrique, anotamos sua sugestão. Mas o Sr., que é engenheiro, talvez devesse saber que os homens são animais diferentes dos demais e, como toda espécie, tem sua dieta formada por opções históricas. Não é porque somos onívoros que comemos qualquer porcaria. Não é possível falar em “ração animal” indistintamente.
Essas coisas que o Sr. sugere se resumem, como diz, a “valor nutricional agregado”. Mas o Sr. se mostra, não um engenheiro de alimentos, mas um engenheiro social. Isso porque sabe que está forçando a barra, pois sugere que esta ração animal seja ministrada “principalmente para os setores de menor poder aquisitivo”. Se fosse apenas engenheiro de alimentos, acharia a dieta conveninente a qualquer um.
O Sr. deve ter lido a "Proposta modesta" (1729) de Jonathan Swift para acabar com o problema da fome na Irlanda. Mas certamente não compreendeu a sátira que extremava o argumento "nutricionista", propondo o canibalismo em vez de se comer leitões. Vale ler de novo com redobrada atenção, Sr. Henrique.
O Sr. sabe que tudo o que foi vivo tem algum “valor nutricional” para quem continua vivo. Apesar disso, muito provavelmente o Sr. não come vermes ou intestinos de peixes; acha jaca e jatobá fedidos. Provavelmente não gosta de cérebro - tão nutritivo - mas de file mignon; e não serão novos processos de “moagem, mistura e extrusão” que farão o Sr. mudar de ideia. Nem o conhecimento do valor nutricional disso tudo que o Sr. despreza e, do seu ponto de vista, "desperdiça". No seu caso, o Sr. busca juntar a fome com a vontade de comer. Todos os homens são assim, embora o Sr. não os veja como iguais.
O Sr. é um homem importante para a sua empresa, que diz que o pilar da organização é seu departamento de engenharia e se orgulha de ter treinado seus técnicos na Suíça. Seus superiores afirmam que estão preparados para responder diretamente às necessidades dos mercados latino-americanos. Suas máquinas são otimas, reconhecemos. Mas o Sr. deveria medir suas palavras.
Um produtor gaúcho de embutidos um dia me contou o conselho que seu pai lhe deu: “Meu filho, nunca faça para vender algo que você mesmo não comeria”. Sr. Henrique, o senhor deveria meditar sobre isso e nunca dar à indústria conselhos que o senhor não poria em prática na sua própria casa, para a sua família. Ou o seu “maior poder aquisitivo” o fez perder a razão?
10/01/2012
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