Depois do ananás, eis como o caju foi descrito no Brasil quinhentista:
“Estas árvores são como figueiras grandes, tem a casca da mesma cor, e a madeira branca e mole como figueira, cujas folhas são da feição da cidreira e mais macias. As folhas dos olhos novos são vermelhas, muito brandas e fescas, a flor é como a do sabugueiro, de bom cheiro, mas muito breve(...) algumas árvores dão fruto vermelho e comprido, outros o dão da mesma cor e redondo. Há outra casta que dá o fruto da mesma feição, mas a partes vermelho e noutras de cor almecegada(...). A natureza destes cajus é fria, e são medicinais para doentes de febres, e para quem tem fastio, os quais fazem bom estômago e muitas pessoas lhes tomam o sumo pelas manhãs em jejum, para conservação do estomago, e fazem bom bafo a quem os come pela manhã, e por mais que se coma deles não fazem mal a nenhuma hora do dia, e são de tal digestão que em dois credos se esmoem.
Os cajus silvestres travam junto do olho que se lhes bota fora, mas os que se criam nas roças e nos quintais comem-se todos sem terem que lançar fora por não travarem (...). É para notar que no olho deste pomo tão formoso cria a natureza outra fruta, parda, a que chamamos castanha, que é da feição e tamanho de um rim de cabrito, a qual castanha tem a casca muito dura e de natureza quentíssima e o miolo que tem dentro; deita essa casca um óleo tão forte que aonde toca na carne faz empôla, o qual óleo é da cor de azeite, e tem o cheiro mui forte. Tem esta castanha o miolo branco, tamanho como o de uma amêndoa grande, a qual é muito saborosa, e quer arremedar no sabor aos pinhões, mas é de muita vantagem (...). Estas árvores se dão em areia e terra fracas, e se as cortam tornam logo a rebentar, o que fazem poucas árvores nestas partes"(Gabriel Soares de Sousa, Tratado Descritivo do Brasil em 1587).
24/01/2012
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1 comentários:
Carlos,
estou adorando esta série (podemos chamar assim?) de aproximações e analogias. Interessante perceber como ingredientes que nos parecem óbvios eram entendidos logo que descobertos.
Abraço,
Priscila Ferreira.
www.podeserpradois.blogspot.com
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