Hoje não tem Leitor de 5ª convencional. Há dias em que precisamos deixar por um momento o nosso pratinho pequeno-burguês e suas excelências para pensar na cidade. E anteontem começou a segunda fase da operação monstruosa da cracolândia. A fase de vedar o espaço: brigadas da Prefeitura começaram a fechar as casas e estabelecimentos “irregulares” com blocos de concreto. De repente os ineficientes se tornaram muito eficientes.
É incrível como a midia embarcou na lorota de combate ao tráfico e recuperação dos viciados, como se essa questão pudesse ter uma solução meramente local. Levou a sério o discurso público e perdeu de vista o processo real de transformação urbana. Atem-se à cronica policial, censura sua “incompetência”. Mas não há nada de “desarticulado” ou “desastrado” na ação. Há eficácia em função do objetivo final que a imprensa esqueceu(?). Por que não trás para o primeiro plano aqueles que, no final das contas, irão se beneficiar disso tudo?
O chamado “Projeto Nova Luz” visa criar uma das maiores operações imobiliárias da cidade, a exemplo de Agua Espraiada e sua “desfavelização”. Há um “Estudo de Viabilidade Econômica Mercadologica e de Situação Fundiária Consolidado” que detalha tudo, tim-tim por tim-tim, ficando claro onde se quer chegar. Todo cidadão consciente deveria ler, entendendo o que esperar para a região.
Trata-se da privatização das dimensões públicas do solo urbano, visto que, por licitação, o poder de desapropriação é passado para o concessionário. Onde se viu isso? A lógica do projeto é “requalificar”, expulsando moradores para trazer população de maior poder aquisitivo.
No modelo, a concessionária pode negociar parcerias para a incorporação, cabendo a si a parcela correspondente ao valor do terreno no negócio. Ou seja, o valor do terreno traduz a parcela de receita que reflete as atividades geradas como obrigações da concessionária, separando-a da atividade de produção imobiliária.
Segundo o estudo de viabilidade, “como cenário base, considera o prêmio de imagem atual da região para os imóveis não residenciais; o outro, definido como cenário alternativo, considera uma melhoria do prêmio de imagem dos imóveis não residenciais. Além disso, no que diz respeito aos imóveis residenciais, além da valorização direta obtida pela instalação de amenidades na área, há uma melhoria da imagem da região nos dois cenários (a área passaria a ser vista como semelhante em valor às áreas da Bela Vista e Consolação). Ou seja, diante do conjunto de investimentos e intervenções que serão realizadas pela futura concessionária, espera-se que ocorra uma melhoria significativa daquele espaço urbano e, provavelmente, uma melhoria da qualidade de vida na região”. Para meio entendedor, meia palavra basta. Estão agora produzindo o “prêmio de imagem”.
A estratégia completa: 1) define-se a área como de interesse público; 2) aprova-se lei autorizando uma “operação urbana”; 3) estigmatiza-se a população e se desvaloriza o espaço; 4) expulsa-se a população; 5) desapropria-se; 6) o poder público faz melhorias no entorno (até um Teatro da Dança milionário); 7) vende-se lotes revalorizados; 8) tem-se a “Nova Luz” no final do túnel. Alguém já disse que o capital sempre vem ao mundo banhado em sangue.
Onde estão as Ongs? Claro, preocupadas com a verticalização da Vila Madalena, a descaracterização do Pacaembu, com o metrô em Higienópolis - tudo muito compreensível, mas nem um pensamento generoso em relação ao centrão. Fosse na Alemanha, pode-se imaginar como isso seria diferente.
Transcrevo abaixo texto que publiquei na Tropico há uns 5 anos, e que se refere a esta operação, com destaque para as sabidas palavras de Romeu Chap Chap. A revista eletronica, lamentavelmente, não está mais ativa. De qualquer forma, assinantes do Uol ainda podem acessar o texto. É um texto longo, mesmo para os padrões que tenho adotado aqui, mas quem acha que blog só deve trazer textos curtos simplesmente não precisa ler, como é óbvio.
Reflexões de sarjeta: notas de um caderno pessoal sobre a decadência de São Paulo
Saudades do Conde
Estou perdido na avenida Rio Branco. Abro a janela do carro e pergunto a um passante onde fica um determinado estabelecimento comercial. Aponto uma direção: “Não! Para lá é a cracolândia! O senhor não deve ir para lá!”. Agradeço a informação, mas sigo assim mesmo. Estou no meio da cracolândia. É domingo e posso ouvir, nítido, o silêncio sinistro de um pedaço da cidade que está prestes a desaparecer.
Lembro-me da sinfonia das britadeiras que faziam fundo sonoro ao “Casamento de Maria Braun” (Rainer W. Fassbinder, 1978). Impressionou-me muito na primeira vez que assisti ao filme. Era uma metáfora sobre a reconstrução da Alemanha no pós-guerra, uma reflexão sobre a possibilidade de felicidade com aquele passado todo. E sempre que ouço esse som em São Paulo fico me perguntando que sorte de guerra destruiu a cidade.
Em parte, São Paulo foi construida e destruida várias vezes, pois tem 450 anos, mas provavelmente não possui meia dúzia de edificações com mais de 150 anos. Os “paulistas quatrocentões” não moravam aqui. Estavam ocupados em exterminar índios e plantar café no interior. A última contribuição que deram à civilização foi por volta de 1910, em Bauru, com o massacre dos kaingang. Depois, vieram morar na avenida Paulista e construíram grandes casarões com o dinheiro do café e da indústria nascente.
Os Matarazzo estavam no último caso. Não tinham as mãos sujas no sangue indígena. O patriarca era conde. “Carcamanos” mãos limpas desse tipo fizeram a beleza da avenida. Mas, na calada de uma certa noite, no final do século XX, Matarazzos puseram abaixo, em horas, o magnífico casarão, antes que o tombamento do imóvel pelo patrimônio histórico produzisse os seus efeitos sobre o sagrado direito de propriedade. Quando a cidade acordou, diante do fato consumado, só podia lamentar. E tomar consciência de que, nem sempre, a sinfonia das britadeiras evoca a reconstrução. Ela pode ser a própria guerra urbana.
Curioso que alguém da mesma família se ocupe, hoje, do projeto de revitalização do centro de São Paulo, sendo uma das suas diretrizes a recuperação e preservação da memória, especialmente arquitetônica. Mais curioso ainda que o prefeito de São Paulo, mal assumiu e estendeu a jurisdição da Regional da Sé até aquela margem da avenida Paulista onde, outrora, esteve o casarão dos Matarazzo. São as contradições da vida moderna.
O bota-abaixo
É impossível deixar de pensar em guerra quando lemos o senhor Romeu Chap Chap, principal porta-voz dos interesses imobiliários em São Paulo, dizer que “há regiões que se mostram irrecuperáveis, a menos que (seja possível) desapropriar o que existe, implodir, projetar e desenvolver um novo bairro”. E ele, que se diz “ávido por encontrar oportunidades de novas iniciativas”, mira a cracolândia, “uma das áreas de maior deterioração da cidade". "Não recuperar o centro de São Paulo é uma opção anti-social, antieconômica, anticultural”, disse.
É preciso destruir porque “raramente um empresário irá investir na recuperação de um prédio deteriorado (...) e ficar ilhado por uma vizinhança em ruínas”. E também porque, ali, existe uma infra-estrutura urbana de valor, sub-aproveitada. Finalmente, nem dá para aproveitar os prédios, pois “a lei proíbe escadas em caracol, características da maioria dos prédios da região”. (Romeu Chap Chap, “Não recuperar o centro é um desperdício”, "Folha de S. Paulo", 24 de maio de 2005).
Fico confuso: e se Londres, Paris, Madrid forem obrigadas a se conformarem às legislações modernas que estabelecem como devem ser as escadas? Será muito pior que Bagdá. Mas as primeiras divisões do exército de recuperação do centro de São Paulo já tomam posição na região. O senhor Chap Chap é o bota-abaixo de prontidão.
Meditação gratuita
A burguesia paulistana deixou de pensar a cidade como “sua” depois da Segunda Guerra. Ela virou um terreno de negócios, “paisagem” antiga, cartão postal, vida em cor sépia. Convocaram Prestes Maia para esboçar a nova paisagem desejada. Urbanistas ainda gostam de acreditar que ele desenhou uma “utopia urbana”. Era mesmo diferente de Ramos de Azevedo, que só via o edifício isolado. Prestes Maia foi um Hausmann tardio, um Pereira Passos paulistano.
Houve, porém, um descompasso (sem trocadilho com o Pereira...): enquanto Perreira Passos redesenhava o Rio ao modelo parisiense, São Paulo também era feita ao modo da “capital do século XIX” na velha avenida Paulista. Depois da guerra, Paris só queria ser como era antes; já os paulistas queriam ser como os norte-americanos, e não como os franceses. Era o peso da vitória aliada sobre a cidade.
E se a cidade não foi reduzida a paisagem, como explicar que essa mesma burguesia deixou Maluf construir o minhocão? Hoje é Júlio Neves quem desenha a São Paulo do futuro. Ele não gosta do Masp, pois não há jeito de ele funcionar em suas mãos. Outras sim, ele gosta. Foi ele o arquiteto da nova sede da Daslu. Foi ele quem convenceu o governo a fazer a “Nova” Faria Lima.. Será que irá convencê-lo a fazer o “pirocão” da avenida Paulista (de onde se poderá ver o mar!), conforme denunciou Emanoel Araujo, apelidado “o breve”, na sua carta-renúncia? Ou a cidadania resistirá e formará uma ONG de nome “Vítimas de Júlio Neves”, como ouvi dizer que existe a das vítimas do cantor Fagner?
Cena um
“- Cidadão! Por obséquio, o senhor pode me informar onde fica o setor dos peixes?”
Aquele “cidadão” soa como uma ordem unida. É preciso bater os calcanhares e se apresentar, solícito, ao burguês de cabelo gomalinado e camisa pólo, estranho ali. Mas é o “setor dos peixes” - mais do que o culto “obséquio”- que faz os carregadores e vendedores dos boxes trocarem olhares cúmplices, gozadores. Que coisa é essa do mercadão organizado por “setores”?
Todo mundo sabe onde fica tudo, inclusive as peixarias. Nunca houve “setor”, que é uma forma sintética de organizar o mundo para quem não lhe conhece as entranhas. Brasília é assim: setor residencial norte, setor das embaixadas... Agora o Mercado Municipal de São Paulo também foi setorializado.
Lá fora, nos estacionamentos que circundam o prédio, se vê grandes mudanças. Onde antes praticamente só havia Kombis de restaurantes que se abasteciam no Mercado, regurgitam Cherokees e Pathfinder. O preço por hora saltou de R$ 4 para R$ 15. Filas de pessoas se formam, serpenteando pelos corredores apertados do mercadão, em direção a um único lugar: a lanchonete que vende pastel de bacalhau.
Para quem é, bacalhau basta.
Cena Dois
No centro, na rua Augusta, há o que restou do Grande Hotel Ca`D´oro. Fundado em 1953, foi, à época, o que o complexo Fasano é hoje para a cidade. Lugar de exibição de poder e, claro, de boa comida. “Casoncelli Bergamaschi”, por exemplo. Mas se você pede o “Gran Bollito Misto dal Carrello” já não comerá aquela maravilha do passado. Os legumes ultracozidos, a língua defumada um tanto quanto salgada; porém os molhos continuam maravilhosos. Nas mesas, é raro, mas ainda se vê Antonio Ermírio de Morais, ou João Sayad. Eles também têm algo de anacrônico em relação aos padrões e gostos da burguesia pós-moderna aninhada na avenida Berrini.
Na hora da conta, você, que levou um vinho muito especial para tomar, fica surpreso com a cobrança da “rolha”. Protesta. E o maître diz: “A nova administração do hotel resolveu introduzir modificações. No tempo do Ático não era assim!”. Você lembra que o maître Ático foi levado pelo Fasano... É o anticlimax. O hotel-símbolo da burguesia desenvolvimentista dos anos JK mercantiliza tudo na sua decadência, mesmo o gesto generoso de lhe abrir uma garrafa de vinho e servir em copos dignos. Não quer se afogar, e se agarra aos fios de cabelos que flutuam sobre as águas, como se fossem tábuas de salvação. Ironia das ironias: na conta vem discriminada uma taxa chamada de “conservação”. Você paga e deixa o centro para trás.
Cena três
No corpo, há veias e artérias. Nas cidades também. Em São Paulo, uma delas gangrenou: a rua Augusta. A “rua” faz parte do nome, como “boulevard” faz de Saint-Germain. Mas são poucas as “ruas” de São Paulo e ainda muitos os boulevards de Paris.
Anos 60: “A rua era feia, com as casas velhas, paredes amarelas. As butiques elegantes se enfiavam dentro de casinholas quase em ruínas. Vitrinas explodiam em luz com vestidos, suéteres, meias, tecidos, jóias, discos, livros, perfumes, peles. Importados, fabricados a mão, feitas em série. Luminosos insignificantes, mais discretos e apagados quanto mais elegante e cara a butique”2. A rua era augusta.
Quando esta “rua” ficou famosa, a burguesia ainda assumia a cidade como sua plantando nela o Conjunto Nacional. Antes de entregar o espaço público ao crime, à prostituição, ao desemprego. Antes de olhar do alto do elevador panorâmico do shopping a anticidade que se formou. Sim, porque cidade é lugar de cidadãos, não de lúmpen. Hoje o cidadão trocou a cidade pela cidadela-shopping.
Cena Quatro
Finalmente a obra tão esperada está concluída. São 20 mil metros quadrados, 45 mil clientes, heliporto, luxo por todo lado e em todas as formas. A nova loja Daslu abre suas portas. Reverteu a decadência da área, entregue ao deus-dará desde que terminou o governo que pretendia colocar ali a sede da Eletropaulo. Hoje o templo paulistano do luxo está ao lado do esqueleto monstruoso e abandonado, na avenida Juscelino Kubitschek, e promete à cidade um espetáculo nunca visto. Mas não se poderá chegar a ele a pé. Somente de carro. O estacionamento custará R$ 30 por hora. Há também um heliporto. São Paulo possui mais heliportos do que Nova York (temos 200, eles tem 4). Aqui há mais contradições a sobrevoar, enquanto o rio de cocô faz as vezes de margens plácidas sem brado ou gemido heróico.
Acho que a inauguração do Mappin foi mais ou menos assim como a Daslu. Seria interessante se a Daslu tivesse recuperado o fausto do Mappin. Mas a burguesia que quer recuperar o centro (ou será outra?) decidiu entregá-lo ao populacho. Por isso, essa necessidade de recuperar outra área degradada. Vai ver uma degradação moderna tem mais charme que uma degradação antiga.
Cena Cinco
Um amigo suíço me sugeriu um livro: “Você precisa conhecer São Paulo de um ângulo que nem imaginamos”. É “São Paulo: uma aventura radical”, de Eduardo Emílio Felianos, dito “O Urbenauta”3. O sujeito ficou andando quatro meses dentro de São Paulo sem voltar para casa. Percorreu 6.700 quilômetros, permanecendo ao menos um dia em cada distrito da cidade. Das 120 noites que dormiu fora de sua casa, apenas 6 foram em pensões. As demais, como convidado de gente que morava no local. Uma autêntica expedição. Levou o olhar classe média onde ele nunca havia ido. Mais do que ninguém, acho que o prefeito deveria ler este livro, obra-prima de uma nova etnografia sobre São Paulo.
“Vacas perambulam entre os automóveis” no Jardim Helena. “Muito novos, os garotos já sabem bater uma laje, preparar uma gambiarra para a luz, concertar um encanamento (...). As famílias ou a desagregação delas começa muito cedo (...). A periferia só sobrevive graças à própria periferia. Aqui se olha o futuro de uma maneira diferente e se corta o cabelo por R$ 3,00. Em outros lugares de São Paulo se corta por R$ 30,00, R$ 300,00.”
Quando ele fala de Marsillac é impressionante. “Não, isso não é São Paulo”, é a primeira reação do leitor. De certo modo o autor também pensa assim, porque, como ele diz no prefácio, “a minha São Paulo, cada um tem a sua”. É isso. Não existe uma São Paulo geral.
A cidade brota do livro de um modo novo. Gente que a faz de costas para o poder público, que “bate uma laje” e não quer saber de posturas municipais. O poder público de costas para eles. Então, o que une a “cidade” a esses moradores das periferias?
Depois, se a região se valoriza - como Água Espraiada - é fácil entender: vêm os senhores Chap Chap com suas teorias urbanísticas e tudo se resolve de alguma forma que não se sabe bem qual é. Digamos que existem pessoas que moram além das “fronteiras da cidade” (aonde, da cidadania, só chega o IPTU) e, depois, elas são expulsas e o avanço da cidade se dá sobre uma área “deteriorada”.
Lembro-me de um diálogo de “Dodeskaden” (Kurosawa, 1970), onde o filho pergunta ao pai por que os japoneses moram em lugares deteriorados e o pai responde que os japoneses gostam de lugares baixos, ao passo que os norte-americanos gostam de lugares altos e cheios de luz.
Entendo que haja “alto” dos Pinheiros, embora seja mais baixo do que Pinheiros simplesmente. Antes era um brejo só. Foi a companhia City, de loteamentos, que introduziu em São Paulo o conceito espacial de “high-society”.
Cena seis
Na televisão, o comerciante discorre, indignado, sobre a barbárie dos pichadores na avenida Santo Amaro. Diz que o valor dos imóveis na região caiu cerca de 30%. Os pichadores apareceram e descaracterizaram a avenida a partir da implantação do corredor de ônibus. É uma espécie de decadência privada da avenida, pois ninguém contestaria o caráter público dos ônibus. E corredor é uma coisa que liga dois pontos, não um lugar para estar.
Como a infecção de uma ferida, os pichadores são os sintomas de que o poder público perdeu o controle sobre o espaço, começou a vertigem da deterioração. Lembro-me da modinha infantil: “Se essa rua fosse minha/ eu mandava ladrilhar”. Mas gente que “bate uma laje” desde pequeno, não tem infância. Não ouviu nem cantou modinhas. Sabe, sim, que o pichador é uma espécie de herói anônimo cujo valor se mede pela ousadia. Ele não mostra a sua ousadia para a cidade, mas para a “galera” que o conhece muito bem. A “rainha do frango assado” de Alex Vallauri foi uma arte que se perdeu, sufocada pelo eu-sozinho que se espraiou pelas ruas. Há também muitos assaltos a carros nos cruzamentos da Santo Amaro. Não se deve andar de Cherokee por lá. Dá muito na vista. Mais seguro ir ao “mercadão” nesses carrões.
A avenida Nove de Julho, ao menos no trecho dos “jardins”, foi transformada num corredor-boulevard. As pichações são logo apagadas, há iluminação de qualidade, tudo é cuidado. Custa uma grana, mas é um cartão-postal. Um “padrão Curitiba” dentro de São Paulo. O nosso metrô também é limpo. Mais que o de Londres, Paris ou Nova York. Bacana como o de Barcelona. Dizem que custa caro essa sua integridade. Há, então, como salvar a Santo Amaro?
Calçada
As vezes deterioram-se as palavras: calçada e passeio público são coisas passadas. Nos chamados “Jardins” a calçada não é pública. Cada morador faz de “sua” calçada o que bem entende. João Sayad já escreveu que, ali, um sujeito em cadeira de rodas não consegue andar meia quadra sobre a calçada. As calçadas também estão coalhadas de casinhas para os seguranças se abrigarem do frio e da chuva. “O terreiro lá de casa/ não se varre com vassoura/ varre com ponta de sabre/bala de metralhadora.”
Meditação dolorosa
Certa vez ouvi um discurso de Darcy Ribeiro, no qual ele disse: “Não consigo compreender como, num país onde não se encontra um frango abandonado, um leitão sem dono, pode haver tanta criança abandonada. Alguma coisa anda muito errada”. É.
Cena final
Sempre que vou para o aeroporto de Congonhas vejo os painéis destruídos de Clóvis Graciano na Rubem Berta. Já me informei com quem reclamar. Asseguraram que era com a Emurb. Escrevi um e-mail. Não obtive resposta, a não ser os painéis continuarem lá, vitimas do vandalismo.
Sempre pensei que Clovis Graciano fosse cultura, identidade, prioridade para recuperar. Pelo jeito não é cultura ou, por azar, está no lugar errado. Devia estar na cracolândia.
Detesto ler ou ver socialite, ou artista carioca, que declara, se referindo a São Paulo: “Eu amo esta cidade”. Não sabem o que estão falando. Nós, que a amamos tanto, já temos tantos motivos para odiá-la que é absolutamente dispensável a opinião dos outros. Proponho uma détente: socialites e artistas paulistanos também se absterão de elogiar a inútil paisagem carioca.
19/01/2012
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2 comentários:
Dória, bom dia
Estive ano passado a convite do Ricardo Castilho na cidade para o MESA Ao Vivo. Sinceramente, gostei da cidade. O trânsito bem melhor que o do Rio, motoristas cautelosos, paulistas solícitos e educados, cidade bem sinalizada, fazendo com que minha estada na cidade fosse das melhores. Não enfrentei engarrafamentos no meio da semana, não enfrentei filas em restaurantes, não fui assaltado, e lha que percorri a pé vários quarteirões numa noite agradabilíssima de outubro nos arredores da Augusta, já que fiquei num hotel por ali.
Apenas um lugar me deprimiu demais. Justamente o Mercadão de SP. O prédio está horroroso, sujo, mal cuidado, realmente o custo do estacionamento quase inviabiliza a visita. Resolvi ir ali experimentar os tais famosos sanduíches e pastéis que tanto vemos nas revistas de gastronomia. Fiquei muito, muito decepcionado mesmo. Bares sujos, velhos, funcionários mal-educados e nada demais os sanduíches e pastéis dali. Comi um de bacalhau que escorria óleo quente pelo guardanapo miúdo que me ofereceram. Caro e ruim. resolvi provar o tal sanduíche de Mortadela, mas ao observar o tamanho real me pus a pensar. Para quê tanta mortadela? Aquele sanduba pode ser caprichado, mas creio que é mais jogada de marketing do que qualquer outra coisa que lembre o bom. Lembrei-me na hora da colonizacão Italiana, talvez uma forma de homenagear com fartura a chegada dos Italianos na cidade. Mas confesso que me embrulhou o estômago. Não posso, como padeiro artesanal que sou aceitar aquilo, aquele sanduíche como ícone da cidade. Tudo bem que São Paulo é rica, farta de ingredientes mas aquele sanduíche simples e exagerado não me convenceu. Cheguei ao Mercadão por volta das 17:30. Fiquei ali naquele botequim tentando ver razões para pagar caro e comer mal. Quando resolvi circular pelo mercado, já eram 18 horas e o local estava FECHANDO, isto em SP, a maior cidade do país que muitas vezes é rotulada como cidade que pulsa 24 horas. Saí dali DECEPCIONADO, programando uma visita para o dia seguinte. Acordei, preparei-me, e após perguntar a um policial civil como fazer para chegar ao Mercadão fui informado pelo mesmo para EVITAR o local pois estava ocorrendo uma guerra de camelôs contra policiais no entorno do mercado. Resultado. Nào fui ao Mercadão novamente. Espero retornar num dia com mais tempo e calma. Fica aqui a péssima impressão que tive do local e do que servem ali.
E passei a valorizar muito o que temos aqui em Itaipava e localmente, inclusive os sanduíches que preparo, estes sim, os melhores do Brasil!!!
Olá Dória
Apreciei que vc fez uma análise clara da concessão urbanística. Até onde conferi o projeto Nova Luz ele não gerou uma só politica social para atender os drogados e o povo de rua até agora. Acompanho de perto essa depreciação do centro e seu sucateamento, resultado do abandono pelo poder público que deveria estar restaurando prédios históricos e dando sentido à palavra "revitalização" e não tornando-a sinônimo de higienização. O Chap Chap e o Matarazzo que me desculpem, mas ambos são uns idiotas! Um justifica um dano irreversível ao centro e o outro faz propaganda da "cracolandia" para denegrir a cidade sem terem vistos as ruas onde os drogados ficam e tais locais não é o bairro inteiro. Primeiro disseram que nós moradores não existíamos na região até reagirmos em defesa de nosso teto que tem habite-se dado pela prefeitura... e garanto-lhe que sabendo viver por aqui vive-se bem! supermercado perto, Mercadão próximo, farmácias, bancos, trabalho lojas, 25 de março. Quer um computador novo, vira a esquina faz um, dois, vinte orçamentos e monta o seu! Querem derrubar 60% de um dos bairros que fornece a maior parte do PIB pagando impostos que mantêem a prefeitura... isso para mim é dar tiro no pé! Aqui não tem favela, mas tem cortiços... e quem perdeu a moradia no São Vito e no Mercúryo, foi parar nesses cortiços pois o "bolsa aluguel" que agora mudou de nome, só paga isso! Não sei qual será o futuro do bairro Santa ifigênia, mas sei que a maquiagem dele vai esconder o tráfico de crack QUE VAI CONTINUAR ROLANDO SE NÃO CRIAREM POLITICAS SOCIAIS E DE SEGURANÇA! sem estratégias para encaminhar mendigos e drogados, não tem led que faça o Nova Luz ser a mudança delirada por Chap-chap, Matarazzo, "Kazabi"(mentiroso em árabe) Alckmin & cia... Sem segurança efetiva não tem vida tranquila no centro, sem limpeza urbana, não tem beleza na região! trocam-se as fachadas mas não trazendo as soluções de cura para a degradação, de nada adiantará Nova Luz, Nova Sé.
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