Nova gastrovictim (além de Alexandra Forbes), Priscila Pastre-Rossi vendeu sua moto e comeu-a em Paris, mastigando peça por peça entre cinco jantares em restaurantes 3 estrelas. A matéria de duas páginas ocupa uma delas com texto, o que é incomum no Comida, mostra como a editoria ficou impressionada com a experiência, a ponto de festejar o potlatch da moça como seu. Ela e o marido comeram como abades.
Priscila precisou ir a um outlet fora de Paris, comprar roupa adequada para aqueles salões de luxos estrelados & estatelados; para leitores, futuros gastrovictims, avança o ritual de preparação e dá os “dez mandamentos da etiqueta à mesa”, começando por abrir o guardanapo e coloca-lo no colo. O comer “com classe” é coisa cada vez mais anacronica em tempos de fast food. Saudades do “ABC” de Marcelino de Carvalho.
Paladar aposta naquela coisa imprecisa chamada “tendências”. Um corpo que cai, tende ao chão. Mas como saberemos se a gastronomia desce ou sobe, nesta ou naquela direção? “Germina uma tendência”, matéria de Olivia Fraga, faz render sua estada no Madrid Fusión em janeiro. Pegou a pesquisa de Andoni Aduriz como modelo de “tendência”: usar sementes, explorando suas propriedades fisico-químicas. Mas como ele mesmo esclarece, só seu meteu nisso por patrocínio da empresa barcelonesa Solé Graells. Assim se fazem boa parte das “tendências”: por encomenda.
Alexandra Corvo sai em defesa do vinho rosé que, diz, não é apenas para beira de piscina. Sugere uns tantos para se experimentar, inclusive um Bairrada que, na Casa Santa Luzia, sai por R$19,70. O leitor deveria mesmo tentar, pois a esse preço um vinho recomendado por entendidos não dói.
Nina Horta sacode o conceito de comida de rua, que vai diminuindo a cada dia, mostrando exemplos daqui e d´além mar. Tudo como intróito do que os chefs farão no minhocão, no próximo dia 6 de maio (o link sugerido por Nina para mais informações a respeito não me levou ao site que prometia).
Muita expectativa por essa decida do pedestal da autodenominada “alta gastronomia” para invadir o terreno da autodenominada “baixa gastronomia”. Parece que é prá valer, pois, afinal, vão se fundir na pior paisagem paulistana. Pena que a imprensa não está dando muita bola para isso, que é a única coisa agitada num cenário bem monotono.
Na coluna do outro Horta (o Luiz), no outro jornal (o Estado), a atenção se volta para a Expovinis. Tema inevitável na semana.
Luiza Fecarotta vai atrás da formiga caipira, isto é, paulista. As içás ainda são caçadas e comidas em Silveiras, especialmente no restaurante de Ocílio Ferraz. Mas Ocílio é mais do que isso, é pesquisador incansável de velhas receitas vale-paraibanas, autor de obra fundamental nesse domínio.
Já falei das içás de Silveiras aqui, e de uma pesquisa que nos revelou os seguintes versos, declamados no teatro municipal por um estudante no distante começo do século XX:
Comendo içá, comendo cambuquira
Vive a afamada gente paulistana
E aquelas a que chamam caipira
Que parecem não ser da raça humana
Sempre me pergunto: por que a formiga e não a cambuquira? É tão dificil encontrar a personalidade culinária de São Paulo que comer coisas que vivem no subterrâneo parece nos aproximar mais do seu conceito profundo. Cambuquira, coisa rasteira...
Paladar faz matéria sobre os novos pratos que valem a visita em vários restaurantes: Mani, Dui, Gero, Arola. Matéria um pouco forçada, pois não há novidade alguma em dizer que nesses restaurantes se comerá bem. Boa notícia no Comida (essa sim, novidade): parece que um chef italiano com cabedal está disposto a melhorar a comida do Terraço Itália. Tão bela vista merece mesmo algo decente no prato.
26/04/2012
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