Claro, tudo se dirige à consagração de Alex Atala, que chegou ao 4º lugar do 50 Best. Um otimismo danado se espraia por toda a gastronomia brasileira, afinal temos três nomes entre os melhores do mundo - sendo duas mulheres! A seleção canarinho, que já foi a pátria de chuteiras, foi substituida pelo trio excelente (Atala, Rizzo, Sudbrack), que é a pátria de frigideiras.
Paladar fez matéria rápida, cujos destaques são entrevistas curtas e convencionais com Redzepi, Joan Roca, Andoni e, claro, Atala. Comida dá mais destaque. Na terça, dia 1º, Josimar Melo escreveu animado artigo na Folha (Mercado), sugerindo que a gastronomia brasileira poderá surfar a oportunidade criada pelos eventos Rio+20, Copa e Olimpíada. Oportunidade “de ter sua projeção multiplicada - com consequencias positivas não somente para o ego, mas para o bolso”, otimizando o interesse internacional pela cozinha brasileira, especialmente da Amazônia, que é como uma promessa “de ser um celeiro de renovação dos sabores”.
Ontem, no Comida, Josimar voltou à carga, mostrando que estamos entre os 5 melhores do mundo, onde não há um único francês sequer entre os 10 melhores. Mais do que debacle da França, Josimar ressalta o valor da ousadia e originalidade - atributos do DOM. Os premiados do 50 Best seriam, “não exatamente os melhores, mas os mais promissores, mais ousados e mais influentes neste momento”. Nem Comida nem Paladar falam do Fasano, que esteve em 59ª posição e sumiu da lista, evidenciando o quanto ela é volátil. Só interessa ao jornalismo o vento que sobe...
Gero Fasano, elegante, ficou quieto, mas Martín Berasategui, agora que está em 67º lugar, tendo caido 38 pontos, qualificou a lista de fraude e manipulação e incitou colegas, como Adrià, a dizerem a “verdade”. "Patranha" é a palavra forte que usa. Ser incluido é glorioso, decair é humilhante.
Extremamente político em seus movimentos, e não raro criticado por isso, Atala mostra o acerto da trajetória e acredita estar imbuído de uma missão: abrir caminho para outros brasileiros. Promete também, com a força adquirida, investir contra o Estado para que favoreça o pequeno agricultor.
Comida entrevista Sudbrack para saber de sua recepção da inclusão na lista dos 100 +. Esqueceu de entrevistar Helena Rizzo, em seu salto de mais de 20 posições, estando a um ponto de ser “a pior dos melhores”, como foi Atala não faz tanto tempo assim.
Paladar dá capa a um restaurante que talvez nunca venha a integrar a lista dos melhores do mundo, embora saibamos que é dos melhores brasileiros no Brasil (que é o que importa): o Mocotó, sua expansão (Café Mocotó) e seus “seguidores”: Barnabé, Nação Nordestina, Recanto Nordestino e Dono da Noite. Luiz Américo também foi fazer a cronica de dois exemplares da espécie - Acarajé e Do Sertão - com a expectativa de encontrar o “Mocotó do B”. Olivia Fraga mostra, através do olhar de um motorista de taxi, “a revolução que a casa (Mocotó) detonou na Vila Medeiros - a mocotrilha”. Enfim, a imprensa se dá conta de que o São Paulo comestível vai além dos ditos jardins, e já era tempo...
Texto do New York Times, traduzido pelo Paladar, dá conta da proibição de foie gras na Califórnia. Militantes comprometidos com o “bem estar dos patos e dos gansos”. Com a gavage os animais sofrem física e emocionalmente, dizem eles. Apesar do babysitterismo, quero o meu mal passado.
Alexandra Forbes, no Comida, fala do péssimo atendimento em restaurantes parisienses. Ela sabe que não é novidade. É mais um desabafo. Sudbrack, em sua entrevista, diz que por aqui também temos que melhorar o nível de atendimento no salão, bem como o nível técnico dos cozinheiros que estão saindo das faculdades. Uma crítica precisa, profissional, que merece atenção.
Alexandra Corvo, resolveu dar uma nova chance ao Valpolicella. Faz um exercício pouco convincente de etimologia da palavra, mas recomendações convincentes para dois vinhos de supermercado bons na boca e no bolso.
Matéria de Marilia Miragaia esquenta o assunto do próximo final de semana: a virada cultural misturada com chefs “badalados”. A produtora do evento pergunta: “por que não apresentar a cozinha como cultura e inseri-la na programação da virada?”.
A resposta é simples: cozinha sempre foi cultura, antropologicamente falando; mas só agora o Estado acordou e dá mostras de estar disposto a oferecer umas migalhas de recursos para que a gastronomia-dos-jardins viceje no pântano urbano. O viés populista é notável diante de um poder público sabidamente de costas para a gastronomia.
O mais interessante da matéria de Miragaia é a lista do que os chefs servirão. É a própria representação que fazem de “comida popular” - da galinhada do Dalva & Dito aos cachorros-quentes, sanduiches vários, tudo terminando em quindim e arroz doce.
Eu apostaria mais no que não é tão óbvio, em Vitor Sobral e Renato Carioni, ambos nadando contra a corrente. Talvez incluísse Daniela França Pinto, se não nos oferecesse um tal de “cogumelo crocante”. Preferiria o meu macio, silencioso. Não aguento mais a crispness da cultura culinária. Como diria Shakespeare, é muito barulho para nada...
03/05/2012
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