07/05/2012

Virada à paulista: do caos nasce nova ordem

D., há muito tempo, esperava aquele dia. Ela mora na alameda Glete, perto do minhocão, e imaginou que havia chegado sua vez e sua hora de experimentar a galinhada de Alex Atala. Quando chegou, já não havia mais nada. “Se esse povo quer ganhar dinheiro precisa fazer bastante!”, disse. Bela lição de comércio!

D. é empregada doméstica e sempre ouviu, em conversas na casa da patroa, falar de Atala e sua galinhada. Desejou, em vão, conferir. A opinião de D. é diametralmente oposta à de Carlos Augusto Calil, secretário municipal de cultura: “alta gastronomia é coisa para poucas pessoas. A imprensa deu uma superdimensão de evento de massa para um evento que não pode ser de massa. Então essa incompatibilidade tem que ser repensada para o ano que vem”. Alex Atala se aferrou num mote: “não é culpa minha”.
Seguramente se a “alta gastronomia” (?) vai para a rua não é para ser para poucos. É para quebrar parâmetros, invadir novos territórios - enfim, democratizar-se, matar a curiosidade de quem nunca pode provar dessas coisas sobre as quais fala a imprensa, falam os blogs, o twitter. “Formação de platéia”, como dizem os experts em teatro e cinema. “Nem gosto de galinhada. Vim para vê-lo (Atala)”. É assim que começa, como no cinema e no teatro começa pelo artista da Globo. Na rua, tudo se mistura. E a força da rua é a mistura, o pathos - sabe muito bem o secretário.

La tamborrada em San Sebastián (Donostia) é uma festa popular onde os cozinheiros tem papel de destaque. A cozinha é um tema de celebração, inclusive pelas crianças em idade escolar. Esta festa pública, já tradicional, fundamenta boa parte do prestígio da gastronomia no país basco. Milhares e milhares de bascos confraternizam em torno dos seus cozinheiros, inclusive chefs aclamados, há mais de meio século.

O que nos falta talvez seja a consciência de que “alta gastronomia” nada mais é do que uma barreira de classes. É a comida ajardinada, não a comida “de rua”. Agora, se é para sair da torre de cristal é para se misturar. Ano que vem, em vez de confina-la novamente, é preciso misturar mais e mais: com barracas de pastel de feira; com ambulantes que precisam ser restaurados em seus direitos de vender alimentos; com traillers de “dogão” e assim por diante.
Se os chefs perderem essa oportunidade, vislumbrada no pathos, será “culpa deles”, de mãos dadas com as autoridades. Afinal, num país onde a democracia pena, por que seria diferente na hora de se comer?

7 comentários:

Anônimo disse...

Dória, infelizmente faço parte desta sociedade que ainda faz alta gastronomia para poucos. Sou uma pessoa que com certeza depende de eventos como estes para sentir um pequeno toque do que realmente acontece neste mundo gastronômico tão seleto, e também fiquei sem no dia da Virada Cultural, lástima. Se isso não for repensado para um evento deste porte no futuro, então não deveriam fazer, devem deixar para poucos, como eventos do tipo O Mercado no bairro do Higienópolis.

Unknown disse...

Eu quase te escrevi ontem, pra pedir pra vc abordar o assunto aqui. Ufa, que bom!

Glicose disse...

é... mais uma vez os cozinheiros acreditam na causa, acordam cedo, vão às compras, viram dias cozinhando no after hours de seus expedientes, carregam seus carros,aceitam as condições desumanas que lhes são oferecidas para trabalhar nessa causa, engolem seco a não entrega do que foi prometido, descarregam mais de duas mil refeições num tempo recorde, escorrem litros de suor durante mais de quinze horas, e mais uma vez os cozinheiros são os culpados no final.
Claro, cliente tem sempre a razão. Quem deve se responsabilizar pelo caos da Virada ainda não deu as caras, mas nós que estivemos lá trabalhando como cachorros sabemos bem que fizemos a nossa parte.
Não é alta gastronomia, não. É cozinha, nem fina, nem pobre. É tudo uma questão de cozinha, sem encheção de saco. Cozinha da melhor forma que formos capazes de fazer.
Se ao invés de de apontar os culpados, todo mundo pudesse se unir a nós para melhorar o evento, teríamos certamente um movimento muito melhor. Porque está nascendo aqui um movimento, uma união de gente apaixonada pelo que faz.
Só falta uma organização de verdade que torne viável tudo o que nossa boa vontade tentou oferecer. Faltou ponto de água, faltou iluminação, faltou higiene, faltou estacionamento, faltou comunicação, faltou recolhimento de lixo, faltou fornecimento de água potável, faltaram fichas de venda, faltou pessoal do staff, faltou segurança. Faltou comprometimento. Até comida de estádio de futebol tem mais respaldo do que foi essa Virada. Tudo o que a prefeitura pôde ajudar o pessoal do Mercado foi processando o idealizador e proibindo-o de futuros eventos.
Um dia alguém amarra o avental e vem pra linha de frente, entender um pouco do que estão falando.

Luiz Felipe disse...

Foi mal organizado. A programação mostrava 2 horas de galinhada e 1 hora do Jacquin. Antes das 2h só se via barracas sendo montadas e a informação de que ia começar as 8h!! Diziam que teve um problema de fornecimento de energia.

A proposta foi muito boa, uma pena não ter funcionado. Talvez se tivessem feito uma galinhada ou sopão no estilo bolo de aniversário da cidade na Sé teria dado mais certo. O povo indo com potes e sacolas se atracando pela galinhada. Isso sim seria popularizar a cozinha. hahahhaa

roberto zullino disse...

Alta gastronomia era a comida de minha avó italiana que morava na 13 de Maio em frente à Basilicata e que benzia a Bela Vista inteira, inclusive o Padre da Aercheropita tudo acompanhado de umas sessões de mesa branca.
Quero ver o tal Atala fazer um molho de macarrão como a velha ou um fusili no arame com calabresa. Não é qualquer um que faz um fusili no arame sem ficar pesado. Galinhada até eu sei fazer.

Anônimo disse...

acho um horror multidão, fila, espera, um empurrado o outro só para provar algumas delicias e ainda ter que pagar por todo este desconforto sinceridade é querer dar perolas aos porcos quem quiser e puder que vá ao restaurante cada macaco no seu galho estes chefes tem que ficar no seu canto pois quem comeu na barraquinha não vai pagar p/ comer no restaurante é propaganda para um publico errado,e se forem repetir que usem um espaço estruturado um ginásio, galpão de cultural isto não tem nada

Diogo disse...

Caros, jogar a culpa na prefeitura é muito fácil. Óbvio que iria lotar, pq não entram na concorrência e se misturam com as barracas de pastéis e tempurás? Será que aceitam descer do pedestam que erroneamente foram colocados pela imprensa?

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