21/03/2013

Banho de chocolate


Esse negócio de ovo de páscoa é das efemérides mais chatas do calendário gastronomico. Todo ano a mesma coisa. 

Quem quiser conhecer os “chocolates” de cobertura que existem no mercado pode consultar a revista Menu, nas bancas. É desalentador. Nestlé, Cargil, Arcor, Garoto e outras empresas alimentam as fundições domésticas. As avaliações não conseguem mostrar, convincentemente, nada de qualidade para quem realmente gosta de chocolate.

Comida dá aquela geral no mercado, convidando algumas chocolateiras para dar “receitas” de ovos de páscoa. De novo, ênfase na fundição. Tenho certeza de que Renata Arassiro teria coisas muito mais interessantes a falar sobre chocolates do que a pauta proposta.

O que salva as leituras do dia é o Paladar, com numero especial sobre (finalmente) chocolates! A retomada do chocolate na Bahia, depois da vassoura de bruxa. E a tentativa dos produtores de grão para “agregar valor” à commodity, fazendo chocolates. Não conheço todos, mas é bom saber que esses esforços se multiplicam. 

Daniel Telles Marques foi a Ilhéus verificar, constatando que Diego Badaró não está mais só. O repórter fala de “Fazendas inteiras (que) foram renovadas a partir do cruzamento de espécies que deram novos frutos com novos sabores”. Confunde “variedade” com “espécie”.  Ok. Mas o mais importante é a questão da qualidade do cacau de Ilheus. 

Segundo me disse Chloé Doutre-Roussel no Salon du Chocolat em Salvador, ano passado, a Ceplac cuidou de produzir variedades resistentes à vassoura de bruxa e perdeu em qualidades organolépticas do cacau. Opinião semelhante é defendida, para o mundo todo, pelos cientistas Harold Schmitz e Howard-Yana Shapiro, em artigo publicado na Scientific American Brasil do ano passado sobre “O futuro do chocolate”.

Esses autores são catastrofistas, e consideram a possibilidade da lavoura de cacau entrar em colapso, inclusive porque a genética limitada das árvores  mostra com que “as cepas coletadas não têm variação suficiente para proporcionar resistência natural a pragas e a doenças (...). Quando os produtores salvam as próprias sementes para plantar novas árvores, essa endogamia local deixa as árvores mais suscetíveis a pragas e fungos”. A Ceplac já errou no passado, e pode estar errando novamente. Além disso, outra ameaça vem por ai: a “podridão parda”, que é proveniente da África e já chegou à América Latina, podendo chegar em breve ao Brasil.

Talvez no futuro não tenhamos mais chocolate de qualidade. Só confeitos com algum cacau, como ovo de páscoa...

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