22/06/2013

A comida de rua - o retorno

Há algum tempo (em 2005?) publiquei, na finada revista Trópico, um artigo que era uma reflexão sobre a decadência do espaço público paulistano e sua apropriação privada. Algo bastante subjetivo, mas nem por isso a decadência seria menos efetiva. 

Levantei o tema dos shopping centers. E recentemente o sociólogo espanhol Manuel Castells, que esteve em São Paulo, disse: “Quando falo do espaço público, é o espaço em que se reúne o público, claro. Mas, atualmente, esse espaço é o físico, o urbano, e também o da internet, o ciberespaço. É a conjunção de ambos que cria o espaço autônomo. Porém, o espaço físico é extremamente importante, porque a capacidade do contato pessoal na grande metrópole está sendo negada constantemente. Há uma destituição sistemática do espaço público da cidade, que está sendo convertido em espaço comercial. Shopping centers não são espaços públicos, são espaços privados organizando a interação das pessoas em direção a funções comerciais e de consumo. Os cidadãos resistem a isso”. (grifos meus)

Claro, e a "carteira de identidade" para se entrar num shopping center é o cartão de crédito. Sem dúvida uma das ideias de retomada do espaço público físico, as ruas, é através da legalização da comida de rua, especialmente ambulante. É uma coisa anti-shopping, queira-se ou não. As autoridades querem reunir e concentrar o comércio de alimentos, e os shopping centers propiciam isso. Assim, o interesse desse comércio também passa a conflitar com o interesse da “comida de rua”.

Dai também o modelo adotado pela Prefeitura para a ultima Virada Cultural ter desservido a essa causa, pois em vez de incorporar, valorizar o comércio popular, estabeleceu um esquema de discriminação de classes: fez um boulevard “gastronômico” distinto do espaço reservado para a tigrada, em vez de misturar.

É preciso ter essas coisas claras para que se possa avançar, democraticamente, para a legalização da comida de rua. Trata-se de recuperar as ruas, a cidade, naquilo que tem de público. E os chefs que gostam de se pensar contribuindo para as causas públicas têm ai uma bandeira específica.

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