21/07/2013

A cozinha bolivariana de São Paulo


Há muito tempo os andinos são o novo proletariado da Argentina e do Brasil, especialmente em Buenos Aires e São Paulo. Levas imensas de bolivianos “ilegais” (quer dizer, sem passar pela imigração), podem ser vistas nos metros de Buenos Aires, especialmente na linea A, assim como no Brás ou no Pari.
Trabalhando em turnos de 16 horas nas confecções de roupas do Brás, em regime de semi-escravidão, produzem as roupas que a gente bem pode comprar na Zara ou nas Casas Pernambucanas.

Eles vieram após os coreanos, importandos via Paraguai, terem ocupado a mesma condição em confecções de árabes e judeus no Bom Retiro. Os coreanos progrediram e os bolivianos os substituíram. Depois, os peruanos substituíram os bolivianos e, agora, parece ter chegado a vez do paraguaios pobres. “Os paraguaios, geralmente, vão morar em favelas e os peruanos alugam quitinetes para seis ou sete pessoas”, explica o Centro de Apoio ao Migrante.

As grandes cidades têm esse tipo de substrato humano sub-remunerado mas, ainda assim, atraente para as pessoas que vivem em condições piores ainda. Nova Iorque se latinizou, São Paulo se bolivarizou. E com essa gente veio na mochila uma culinária andina que vai, aos poucos, fincando pé em São Paulo.




A institucionalização boliviana já é visível desde 2001. Basta ir aos domingos à Praça Kantuta (metrô Armênia), formalizada naquela data. São batatas variadas, como nunca vistas por aqui; milhos de variedades também pouco conhecidas; além de empanadas salteñas e outros quitutes bolivianos.

Os peruanos, talvez por obra e graça de Gastón Acurio e do esforço mercadológico do governo daquele país, já possuem uma culinária que ingressou nos estratos de altas rendas da cidade, além de manter um segmento popular espalhado pelo centro da cidade. O mesmo não aconteceu, ainda, com os bolivianos.

Além da feira Kantuta, são quase inexistentes os restaurantes bolivianos formais. Boa exceção é o Rincón la Llajta que aos domingos serve comida boliviana e nos demais dias comida própria para trabalhadores do centro, na cracolandia.

Aos poucos, vazando pelos poros estreitos do gosto administrado pelo pensamento grastronômico (o mesmo que pesca a quinoa e o ceviche e se dá por satisfeito), a cidade vai sendo contaminada pela grande cozinha de referências pré-colombianas, especialmente dos incas, moches, chibchas e canãris. As dezenas de milhos, as pimentas, as centenas de batatas, vão revelando, de soslaio, a grande cozinha bolivariana da atualidade. Ela não é peruana, boliviana, colombiana - ela é milenarmente sulamericana.

Do mesmo modo como os paulistanos aprenderam a comer comida japonesa, aprenderão a comer a bolivariana. O movimento da culinária é indiferentemente de cima para baixo e de baixo para cima. Palavras desconhecidas vão formando um novo repertório de pratos apreciados e desejados.







Serviço:

1. Rinconcito Peruano - Rua Aurora, 451
2. Tradiciones Peruanas - Av. Rio Branco, 439
3. Rincon la Llajta - Av. Cleveland, 698 (somente domingo, mas ligando para Dna. Flora ela pode preparar sob encomenda em qualquer dia da semana) - 3221-7821




4 comentários:

Ripa disse...

o Rinconcito peruano é um tanto difícil de achar.
http://goo.gl/maps/C2B96
é só a portinha e tem q subir uma escadaria.
só vale a pena pq o ceviche é mto bom. abs

e-BocaLivre disse...

Andando a pé - coisa que os paulistanos motorizados desaprenderam - é bem fácil achar, Ripa. Não acha?

claudiogonz disse...

Os africanos também estão nesta vibe e já tem coisas interessantes acontecendo no centro de São Paulo.

vitor disse...

Podiam popularizar o churrasquinho de coração de boi por aqui.

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