16/07/2014

Mudanças no consumo alimentar

As pesquisas de consumo geral permitem uma visão interessante sobre a sociedade, quando o destaque é a alimentação. É o que a Folha publicou no caderno “Mercado” (13/07/2014), passando meio despercebido.

Um gráfico esclarecedor mostra as variações do gasto com bens de consumo, com as classes A e B avançando de 18% em 2009 para 60,9% em 2014. As classes C e D, por sua vez, reduzem a participação no bolo de 82% para 39,1%. Essa inversão de posições na pirâmide de gastos ao longo dos últimos 6 anos permite várias ilações.

No que tange à alimentação, a classe média (classe B) aumentou a procura por feiras e comércio informal e substitui a frequência a restaurantes por alimentação em casa, o que se expressa pelo aumento de 14,5% no consumo de perecíveis. A classe A, por sua vez, não teve seu comportamento abalado pelas variações do emprego e renda.

Durante muito tempo a expansão do consumo foi liderada pelas classes C e D, num processo que cessou. Isso provoca uma mudança do perfil da oferta de bens e serviços, cuja profundidade não conseguimos estabelecer. Contudo, é certo que a situação constatada reforça a expansão dos restaurantes mais caros, e provavelmente a retração daqueles de “classe média”. Isso em certa medida explica a grita contra os preços, pelo lado do consumidor e a grita contra o governo e os impostos, pelo lado do empresariado do setor. A macroeconomia nunca é uma razão palpável e é necessário encontrar um culpado...

Já o fato novo de se comer mais em casa (classe B), seguramente implicará numa mudança da dinâmica alimentar na própria família. A nova cultura culinária, onde o homem também cozinha, irá se ampliar; produtos dirigidos a esse nicho se multiplicarão, inclusive nas suas formas de suprimento, e assim por diante. A “gastronomia”, que vinha se expandindo como nunca, talvez perca importância relativa se a classe média amenizar esse ideal de bem comer que se pratica em restaurantes, optando pelo acolhimento doméstico.

São coisas que o tempo mostrará. Por enquanto basta registrar que algo mudou no “mercado”, impondo novos rumos ainda mal percebidos.

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