Alcoolizar-se não é fácill. #alcoolizarseécultura. Embora a quase totalidade das culturas produziu e produz álcool, ele não se consome “puro”, mas com um quê identitário.
Não conheço estudos sobre álcool e imperialismo, mas desconfio que exista uma relação profunda. O vinho romano, a cachaça no escravismo colonial, moeda de troca pelos negros escravos na costa da África e assim por diante. E o uísque, como se tornou dominante no mundo?
O que reveste o álcool (o spirit) é o que lhe dá identidade. “Brasileiro gosta de cachaça”. E quando se discute a cachaça e suas características, assim como os vinhos, desloca-se a discussão sobre alcoolização para um terreno mais propriamente estético. Só o domingo, quando o camarada enche a cara e, depois, a cara da mulher e dos filhos de porradas, restaura a verdade. Só o bafômetro restaura a verdade preventivamente.
A pós-modernidade adotou a vodca. Nada de envelhecer em barris de carvalho, recobrindo-se de outros sabores e aromas! Um álcool “neutro”, imediato, sem personalidade, e que por isso mesmo combina com qualquer coisa. A caipirosca é a prova disso. Mas o mesmo é sempre o mesmo e cansa. Dai vieram as vodcas em garrafas de Andy Warhol, e, nelas, os sabores de baunilha, etc. O sem-gosto da vodca jogou a toalha e abriu mercado para os aromas.
Surge a moda do gin. Já temos meia dúzia de marcas de gins moderninhos nacionais, que respiram ervas da Amazônia etc, além daquele antigo, que estampava no rótulo: “diga siga”.
Cada um de nós continua podendo escolher o que mais gosta, o grau de nacionalismo que põe no copo e assim por diante. Mas, convenhamos, da vodca ao gin houve uma evolução. Os perfumes da pós-modernidade. Aos retrógrados, só restará o consolo de uma talagada de Chanel nº 5.
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