É impressionante a desfaçatez do prefeito. Num video em que lança o programa Allimento para todos, não falta a presença de freiras e padres, um rótulo que reproduz a imagem de Nossa Senhora, e nem tampouco a frase “esse é um produto abençoado” - enquanto distribui para “degustação” a gororoba Allimento, dizendo, inclusive, que “parece um biscoitinho de polvilho…”.
Mas também é enorme a desfaçatez dos religiosos ali presentes, mal intencionados ou inocentes úteis ao aplaudirem um projeto que Doria anuncia que será posto em prática em São Paulo primeiramente e, depois, “em todo o Brasil”. É ocioso falar da dimensão político-eleitoral da iniciativa.
Mas não é ocioso lembrar que a Igreja Católica tem suas próprias estratégias de combate à fome e nenhuma delas consiste em dar ração para os pobres.
A Pastoral da Criança, por exemplo, “entre outras causas, vê a desigualdade social como principal causa da fome. E isso não é novidade pra ninguém e nem para a Pastoral da Criança. E a nossa luta contra a fome é uma luta pela justiça social. (…). Hoje, uma das coisas que a Pastoral da Criança tem como desafio, além de combater a desnutrição, é combater a anemia. Sentimos hoje que realmente, por falta de uma alimentação adequada, as nossas crianças estão ficando anêmicas. E, por outro lado, temos observado nas crianças que acompanhamos uma grande porcentagem de obesidade. No ano passado, foi identificado que 1,2% das crianças acompanhadas eram obesas. Estamos tentando lançar para as mães e para as crianças aquela costumeira horta caseira".
Não sou católico, mas sem dúvida apreciaria ver a compaixão cristã em ação na sociedade, pressionando pela mudança de estruturas sociais e, desde já, dignificando e humanizando os que nada têm. A multiplicação dos peixes e sua divisão é uma metáfora cristã bem mais razoável do que isso que vemos, como um apostolado do embuste que um punhado de religiosos abraçou com o prefeito.
0 comentários:
Postar um comentário