27/02/2009

Março é mês de mel no sertão

Apesar do grito - “eu quero é mel!” - do Luiz Melodia, brasileiro não gosta de mel. Come uma merreca, se comparado aos norte-americanos e europeus. Viciou-se na máquina mercante do açúcar e desprezou as abelhas. Mas historicamente ele já foi importante para quem andava pelo sertão: coalhada com mel. Os índios, então, são do mel de abelhas sem ferrão.
Diz-se das abelhas que comem açúcar que são “preguiçosas”. Os homens também.
O mel da chapada do Araripe, no sertão, é extraordinário; fruto de um pasto apícola maravilhoso (onde se contam 14 espécies arbóreas, 11 arbustivas e 27 herbáceas) e dá mel todos os meses, entre março e dezembro. Os meles das flores de cipó-uva (Serjania caracasana) e marmeleiro (Crotonson sonderianus Muell) são muito sutis, delicados, nada devendo aos melhores meles dos Alpes. Os do cerrado também são muito bons. Os da floresta Amazônica estão por se descobrir em extensão.
O brasileiro não come mel. Máximo de 100 gramas por ano, sendo que 25% da população nunca come. O mel está associado a remédio.
Há poucos anos, as abelhas argentinas ficaram doentes e as da China contaminadas por agrotóxicos. A Europa deixou de comprar mel desses países e o Brasil viu surgir a sua grande chance de exportar. Assim, como o brasileiro já não consumia, hoje os alemães se lambuzam em seu nome.
Seria legal se os chefinhos e chefões meditassem um pouco sobre a diversidade de sabores e aromas que o mel pode acrescentar a uma composição. O mel traz à mesa a poética das flores. O açúcar não. Criatividade é isso: achar o mel certo para o prato incerto, sem a preguiça que o açúcar impõe às escolhas.

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