22/02/2009

Vegetarianismo versus carnivorismo

Estou trabalhando sobre o livro de Warren Belasco [“Meals to come: a history of the future of food”] para a editora Senac, que pretende lançá-lo em 2009. Pretendo fazer uma introdução didática.
O que mais me impressionou no livro, cujo enfoque é sobretudo histórico, foi a duração e persistência da discussão sobre o vegetarianismo versus carnivorismo. Principalmente nos Estados Unidos, os argumentos a favor de um e de outro vêm lá do século XVIII.
Duas questões me parecem relevantes nesse debate. Primeiro, aquela sobre as taxas de conversão calórica. As proteínas que assimilamos através da carne bovina “custou” várias vezes a sua quantidade em proteína vegetal, isto é, ao comer um bife “desperdiçamos” toda a proteína que o animal comeu para produzir a sua própria vida (crescer, manter o calor do corpo, produzir o chifre, as vísceras, etc). Assim, os vegetarianos perguntam: por que não comemos diretamente essas proteínas vegetais? A pergunta não é absurda, e se tomarmos um complexo de vitamina B junto parece que não haverá nenhum prejuízo nutricional.
O argumento (malthusiano) é que a população mundial, na medida em que cresce, levará a um limite dos espaços onde se produz grãos para alimentar os bovinos.
Eu já havia comentado isso em “A culinária materialista”, ao resenhar um artigo de Levi-Strauss sobre “as lições da vaca louca”.
Mas o que me impressionou no livro do Belasco é que ele retrata esse triunfo da carne bovina sobre a nossa dieta como expressão do “triunfo da civilização ocidental” sobre todos os povos do mundo. Ser “civilizado” é comer bife. Até a FAO considera o “nível civilizacional” segundo o consumo de proteína animal. Diante desse quadro, China e Índia são a antítese da nossa civilização.
Belasco pegou o problema pelo chifre. Será que o chefinho, que se debruça sobre o filé, querendo lhe emprestar sabores inovadores, tem consciência de que trabalha nessa direção?

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