13/10/2009

Menos teatro e mais ciência

Ontem a polícia fechou o restaurante Champion, na Liberdade. Encontrou um siri vivo no banheiro, o que rendeu foto num jornal. E encontrou peixes e camarões num balde.

Nos anos 80 houve uma grande campanha contra a “falta de higiene” nas pastelarias chinesas. Encontrava-se baratas, que apareciam estampadas em fotos! O resultado foi que os chineses acabaram abandonando o ramo, que foi ocupado pelos japoneses – com o apoio dos seus eficientes vereadores, que controlavam as licenças de barracas de feira dadas pela prefeitura. O “pastel de feira” mudou de mãos.

Pessoalmente acho que um siri vivo é muito bom sinal. Mesmo que tenha escapado do balde e se metido no banheiro, sabe-se lá por que instinto ou necessidade. Os chineses também mantêm peixes vivos nos restaurantes. Enguias, carpas. Apreciam o movimento. Dos animais, preferem as partes que se movem: rabos, pés, orelhas, focinhos, línguas...

Os insetos não são “sujos” para os chineses, nem para os nossos índios. Mesmo que sejam baratas. Nem o “horripilante inseto” de Kafka era uma barata, como provou o tradutor Modesto Carone. Mas que alguém antes tenha traduzido errado, interpretando “horripilante” como “barata”, diz mais da nossa cultura que se quer asséptica do que do inseto.

Os ideiais de higiene e saúde variam de povo para povo. Na França é um crime lavar um frango antes de levá-lo à panela. O mito da água purificadora está mais ligado ao batismo do que à higiene.

Precisamos meditar sobre saúde e higiene. Não me impressiono com os funcionários de restaurante com tocas, luvas e máscaras. São ridículos, e o ridículo avança por padarias e lanchonetes também. Sabemos que tal parafernália não espanta aos microorganismos...

Seria bom se substituíssemos gestos teatrais por análises químicas e microbiológicas. Saberíamos se, de fato, os salmões e frangos, entupidos de antibióticos, serão nocivos a curto, médio ou longo prazo; se os hormônios ministrado a uma vasta gama de animais afeta nossa saúde de forma irrecorrível; se os nitratos e nitritos que o SIF exige nas carnes em conserva são ou não cancerígenos, e assim por diante.

1 comentários:

Leo Beraldo disse...

Cada vez mais, o natural nos é estranho.

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