28/07/2011

Leitor de 5ª - roteiro para ler o que não está escrito no gibi

“Eu digo que é meia quadra/você diz que é quadra e meia”, cantava, em repente, o poeta popular. É incrível, mas quando você diz ou escreve uma coisa nunca poderá ter certeza de que foi entendido como pretendeu. É bem provável que não seja. Ainda mais num tempo em que se lê rapidamente, passa-se os olhos sobre o jornal; e os editores, sabedores disso, preferem textos mais superficiais, engraçadinhos, só para se passar os olhos, não para ler e refletir. Dai a buscar temas banais, por julgar que, sendo superficiais, são melhor entendidos, é um passo.

Recomendo a leitura do “O último capítulo das empregadas”. Nina Horta, que escreve tão bem, se vê na contingência de explicar o que escreveu. Interpretar a si própria, traduzir-se. Passar-se a limpo. Foi xingada em cartas, como se escravagista fosse. E me pergunto: para que escrever para quem não sabe ler, mesmo em bom português?

Mas os jornais, que talvez se encontrem nas suas últimas décadas de existência na forma impressa, precisam lutar desesperadamente para sobreviver. Como aquele último dinossauro que, ao acordar, percebeu que ainda estava vivo.

Crianças na cozinha? Bah! Esqueçam o pentelhinho de 10 anos que faz crítica de restaurantes. Furinhos no pudim? Bah! Esqueçam que confundem alhos com bugalhos, que metem amido no seu pudim, transformando-se de pretensos essencialistas em nominalistas que promovem confusão. Caloca Fernandes diz coisa com coisa.

E fiquemos hoje nas matérias de Luiza Fecarotta sobre a feira de chocolate que vem ai ano próximo; e naquela sobre cachaças. Na boa resenha de Cristiana Couto do livro de MacGee e a boa resenha de Josimar sobre a Tasca da Esquina, de Vitor Sobral.

Não perca tempo. A menos que você queira ler o que não escreveram, assim como acontece com leitores de Nina Horta sobre as empregadas.

1 comentários:

Claudio Gonzalez disse...

O Paladar desta quinta está ótimo para leitores marxistas. Contradições por toda parte. Caloca diz que acha uma tragédia fazer pudim com leite condensado. O pessoal do Paladar diz que é preciso ter leite condensado para ele ficar bom. E eu concordo. Em outra ponta, Luiz Américo diz que uma refeição de R$ 120 no Santovino não vale o que custa. Mas no evento Paladar, uma hora de aula mequetrefe custa os mesmos R$ 120. Com estes preços abusivos por aula, o evento Paladar sai, definitivamente, da minha agenda.

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