12/07/2012

Leitor de 5º: de fetiche em fetiche

“O fetiche concentra a nossa atenção num objeto específico, excluindo o que vai por trás dele. A nossa atenção estaca ali e não vai adiante, para problemas maiores. É como fetichistas que temos sagrado nossos chefs como superstars, num mundo confuso onde mandam e desmandam”. A frase de Nina Horta, no Comida de ontem, é inspirada em Marx, que analisou o fetiche da mercadoria, e aponta para um dos principais fenomenos modernos: a centralidade da comida na fetichização do mundo.

Muito se poderia dizer sobre esse processo, pois como a comida chegou ai é coisa ainda misteriosa apesar do blá-blá-blá sociológico. Gosto das pistas que dá o texto do antropólogo Igor Kopytoff (“A biografia cultural das coisas”, 1986), onde analisa o processo de “commoditização” na sociedade moderna, quando pessoas e coisas trocam de lugar ou quando coisas adquirem, em diferentes momentos de sua “vida”, sentidos e utilidades diversas. Gosto também do livro de Lucien Karpik (L´Économie des singularités, 2007). São esforços para além da generalidade com que Marx tratou o assunto, tentando aterrissar nas formas concretas e presentes de fetichização da mercadoria. Karpik chega a mostrar como o vinho foi elevado à condição de ícone moderno de consumo e a mística “natural” que se constrói em torno dele.

Já a capa do Comida é sobre pastas. Esse gesto que consiste em amassar as coisas, fazer papinha. As “pastas de entrada” nos restaurantes brasileiros promovem a abstração de como vieram ao mundo. Guacamole e sardela são apresentadas como equivalentes. Amassadas, passadas no pão. Uma matéria sem emoção, sem para que.

Na rasteira do Salon du Chocolat, Luiza Fecarotta faz o perfil de um cacauicultor. O assunto deveria render muito mais, ser capa do Comida, aproveitando o esforço da jornalista que foi até lá. Mas, vai saber por que, a editoria vibra mais com pastas, esse assunto frio, gelado. Uma pena.

E então eis que Paladar faz o que Comida deixou de fazer: deu capa para o Salon, em excelente cobertura jornalística de Cíntia Bertolino, que faz aparecerem os personagens do mundo chocolatier, como a carismática Chloe Doutre-Rousset, Samantha Aquim e Sébastian Bouillet. E parece que Comida, sabedora de que Paladar daria capa - e segundo o cânone de que um jornal não repete o que o outro faz - deu-se por derrotado por antecipação... Uma modalidade de anti-jornalismo.

Alexandra Forbes, no Comida, relata o desencantamento do mundo: tão fixada esteve no Noma que, quando chegou lá para comer, tudo parecia déjà vu. Incidência da fetichização sobre a alma deambuladora. A Corvo, percorre o assunto fondue e indica vinhos. Detesto fondue.

Josimar resenha a última metamorfose de um endereço: o Jaú, que ocupa o lugar que antes foi do East e do Seraphini. Parece que o negócio melhor é o buffet, coisa já tradicional na história dos atuais proprietários. No Paladar, Patrícia Ferraz dá notícias da próxima abertura do esperado Attimo, restaurante que terá à frente Jefferson Rueda e sua proposta de cozinha “italo-caipira”. Luiz Américo resenha o neo-Terraço Itália. Vale a pena? Não, diz ele. E por que resenha? Porque está com chef novo. Pelo visto, a velha vista continua o melhor do cardápio.

2 comentários:

Anônimo disse...

agora na espanha já tem campanha contra o bom e velho figado gordo, como o brasil só "importa" as piores ideias daqui a pouco começam a querer proibir aqui tbm. já não basta outras coisas (curiosamente um monte de coisas francesas de origem)

Onde Ir - Guia de Restaurantes disse...

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