16/07/2012

São Paulo: continua expulsão da comida das ruas

As feiras livres existem há muitos séculos, em boa parte do mundo. Sempre foram uma forma de encontro entre produtores rurais e consumidores urbanos. Até hoje é possível ve-las espalhadas nas maiores metrópoles do mundo. E recordo que a primeira vez que vi “orgânicos” foi na Union Square Greenmarket, em Nova Iorque. A feira continua lá, e acontece às segundas, quartas, sextas e sábados, das 8 da manhã às 6 da tarde, sempre na Union Square.

A feira da Place Monge, em Paris, opera às quartas, sextas e domingos, entre as 7 da manhã e as 14:30 hs, assim como tantas outras feiras de bairro. Ninguém pensa em liquidar essas feiras, e elas são aguardadas por milhares de cidadãos, que nelas se abastecem do que há de melhor. A feira é um luxo, e serve para mostrar uma série de inovações na produção de alimentos, além de firmar a estima dos consumidores por certos produtos que não conseguem conquistar um lugar ao sol nas grandes redes de supermercados. Muitos artesãos só existem porque as feiras parisienses os acolhem.

É claro que o grande abastecimento das massas já não se dá em feiras, mas em supermercados. O mercado Les Halles, o “estomago de Paris” como dizia Zola, durou 800 anos mas acabou convertido num shopping center sobre uma estação de metro.

Em São Paulo, a administração municipal parece odiar as feiras, fazendo de tudo para enfraquece-las e, se possível, liquida-las. Feiras e mercados públicos são instituições ameaçadas pelo poder público. Basta ver o abandono do Mercado de Pinheiros; basta ver a decisão arbitrária de mudar de lugar a feira da Praça Roosevelt, que existe há 60 anos; basta ver como anda combalida a feira do Pacaembu.

A monopolização do comércio de alimentos caminha célere. A feira é absorvida, lentamente, por cadeias de suprimento que selecionam seus fornecedores, padronizam a oferta, sobem os preços. O resultado disso é uma cidade onde, mais e mais, os cidadãos deixam de contar com a concorrência entre produtores e comerciantes, coisa que, primordialmente, ajuda a controlar os preços.

Sinésio, que vende frangos e outras carnes na feira do Pacaembu e na feira da praça Roosevelt, denuncia que foi procurado em fevereiro por agentes da prefeitura e notificado para procurar, individualmente, outra feira para trabalhar. Unidos, os feirantes procuraram o sindicado e a prefeitura recuou. Recuou mas não desistiu, pois agora quer mudar a feira toda da Roosevelt para a rua Cesário Mota Jr.

A exemplo do que acontece com a “comida de rua” vendida por ambulantes aos quais a prefeitura nega licença, atirando-os numa clandestinidade que só favorece fiscais achacadores, as feiras são perseguidas e “normatizadas” de modo a terem sua importância diminuída na cidade.

Seria mais democrático se a Prefeitura apresentasse aos cidadãos o seu plano por inteiro: afinal, qual seu propósito último? Qual sua idéia de “ordem urbana”? Quais as regras que devem prevalecer? Enquanto isso não acontece só podemos deduzir que, em surdina, trabalha para a concentração do comércio nas redes de supermercados; de maneira não declarada, beneficia-se dos monopólios.

2 comentários:

Rubens Ghidini disse...

Não é só em SP, não. Aqui no Rio está acontecendo a mesma coisa. Triste de se ver.

Claudia disse...

Taí um tema que precisa ser introduzido nos debates para prefeitos da capital este ano... Vai ver que algum aspirante da família Diniz está no comando das regionais do Kassab.

Enquanto o mundo todo se curva diante dos mercados de rua, das carrocinhas com comidas de rua, São Paulo vai deixar esta instituição tão paulistana sofrer desta forma?

É hora depressionar os candidatos a alcaides da capitá paulista.


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