20/09/2012

Leitor de 5ª: Miojo chic e mangas

Na semana, é melhor começar a ler Comida pela coluna de Marcelo Coelho, que fica na Ilustrada. É sobre o chic moderno, empapado de cultura brega. O mote: comandado por André Boccato, editor de livros de gastronomia, surge o livro “Meu miojo”, com participação de Carla Pernambuco, Erick Jacquin, Emmanuel Bassoleil e, claro, o caixa da Nissin, que fabrica Miojo e paga as contas. É uma campanha publicitária e tanto.

 Não vejo nada de mais que esses cozinheiros e editores ganhem sua graninha honestamente, seja com Miojo, Leite Moça ou Nutella. O que realmente intriga é a metamorfose do “chic”, como aponta Marcelo Coelho.

 Muito camarão, lagosta ou foie gras sobre o miojo. É como se os de baixo imitassem os de cima. Mas também pode ser visto como se os por cima imitassem os de baixo. “A estética proletária, em sua modalidade retrô, acompanha o processo de ascensão da classe baixa no Brasil. Nada ficou mais brega do que um cruzeiro nas Bahamas. Pela ordem natural das coisas, é de prever que se torne elegante passar um fim de semana com churrasco, pescando na represa”, diz Coelho.

 Há algumas semanas Gilles Lipovetsky - um grande especialista em luxo - deu uma entrevista para a Isto É, na qual disse: “ Hoje, não há mais regras para o consumo do luxo, já que ele se traduz como uma expressão do individualismo. Cada um tem a sua ideia do que seja luxo. E é aí que entram as expressões culturais das camadas populares e experiências singulares, como, por exemplo, comer um prato típico em uma favela do Rio de Janeiro, o que já se tornou um programa turístico ou de ricos excêntricos”. (Isto É, 10 de agosto de 2012). Os preguiçosos farão seu miojo em casa, ricamente turbinado com foie gras enquanto, numa estranha dialética da inversão, chefs “sustentáveis” abandonam essa iguaria. O luxo parece exigir, sempre, o consumo do exclusivo, ainda que este não seja sinônimo de caro. Mas enquanto a oposição chic/brega orientar escolhas alimentares estaremos todos perdidos. E estamos.

 Na mesma linha das metamorfoses do gosto, Josimar resenha a parrilla Dibaco, de inspiração argentina adaptada ao gosto brasileiro, inclusive no ponto da carne. La estão também a farofa e o bife parmigiana, que é brasileiro (embora diga-se que inventado aqui, há decadas, por cozinheiros argentinos). Nina Horta exemplifica como um bufê tem que ser Zelig para agradar todo mundo. Se a noiva é judia e o noivo indiano, eis a fusion que o bufê fará...

 Capa do Comida é trocadilho infame, à conta de engraçadinho: “Too much” por “tomate”, que anda caro prá chuchu. Conversa vai, conversa vem, desagua no dilema: usar ou não tomate em lata e em que proporção? Outra coisa: ao listar os tomates do mercado, esquece aquele que é o melhor para saladas, o momotaro. Esse sim sempre mais caro, pois cultivado em estufa. Reportagem de Priscila Pastre-Rossi traz à luz uma outra “Anísio Santiago”: a cachaça de Coronel Xavier (MG) envelhecida 10 anos, que custa R$ 300. Quero minha parte em vieux marc de champagne para tomar com Marcelo Coelho.

 Alexandra Corvo apresenta vinhos do Languedoc, bons e em conta. A Forbes diz que Lima é feia, apesar da “sofisticação vanguardista” de Diego Muñoz e da simplicidade sedutora de Javier Wong. Muita gente que foi ao Mistura me fala de decepção com a culinária de Lima, mesmo daquela de Acurio. Mas sempre à boca pequena, pois os peruanos ainda estão em ascensão e a crítica, em gastronomia, em geral só ajuda a queda livre...

 O Estadão chegou à minha banca sem Caderno 2 e sem Paladar. Em nenhum exemplar havia! Depois não sabe porque perde leitores... Na capa do Paladar estaria o tema Mangás... Mais uma vez, preferiria minha parte em mangas - já que estamos em tempos de trocadilhos infames...

1 comentários:

Feraprumar disse...

os mangás estavam ótimos.. tem um lance das gotas de Deus (vinhos) que eu gostaria de ver seu comentário, Dória
o Estadão perde também pela qualidade gráfica..há várias páginas borradas..
em tempo: detesto miojo...desde sempre!

Postar um comentário