Vamos direto ao ponto: você está disposto a transformar o box do seu banheiro ou o lavabo do apartamento em defumador? Mas é o que acontecerá se você se entusiasmar com a matéria de capa do Paladar, fazendo bacon para consumo próprio e presentear os amigos. Depois da moda das cervejas domésticas, pode ser esta a última onda.
Uma forte diretriz do raciocínio gastronômico moderno é essa que transforma a casa numa espécie de autarquia da comilança. Há raízes antigas, como o licor de jabuticaba “fui-eu-mesma-que-fiz”, indefectível nas visitas à tia do interior. Mas, convenhamos, é duvidoso que o resultado seja melhor do que os tratamentos industriais de qualidade (que existem). Talvez isso concorra mesmo é com a marcenaria, o aeromodelismo, e assim por diante - e o propósito inconfesso seja ocupar o tempo livre. Há artesanato também na crônica de Luiz Américo, que resenha um restaurante lá no cafundó, em Interlagos: o Bierquelle, que faz os embutidos e as próprias mostardas.
Neide Rigo ataca de cará-moela. Se você não conhece, quem sabe possa ve-lo decorando as mesas do Attimo. O cará-moela está chegando!
Comida vem com capa dedicada à tapioca de madame. Sim, porque o caderno insiste na tecla de que o que aparece nos restaurantes “dos jardins”, ditos “gastronômicos” ou “estrelados” é o que conta. Pouco importa que a sua empregada coma tapioca todo dia, antes de pegar o ônibus que em 2 ou 3 horas a levará até sua casa. Pouco importa que a mãe dela faça a própria tapioca como você faz o bacon. É no Dui, no Capim Santo, no Brasil a Gosto, no DOM, que a tapioca passa a existir, no mundinho fashion de Comida.
Matéria de Alexandra Forbes exalta Gastón Acurio, lider dos “lavradores” peruanos. E chama a atenção para as palavras de Massimo Bottura: “tenho a responsabilidade de estar perto dos lavradores, dos perdedores. Eles precisam de alguém que esteja em minha posição para sobreviver”. Parece que em todo mundo será assim: o artesanato alimentar alavancado pela gastronomia, quando não proibido pelas autoridades sanitárias. Então, caro leitor, não concorra com essa gente: exija bacon de melhor qualidade sempre, feito por quem está com a vida comprometida no ofício de bem alimenta-lo.
Boa entrevista de Luiza Fecarotta com Shoshana Baruk, dona do Delishop, no Bom Retiro, conhecido pelos frequentadores do bairro como o “buraco da Shoshana” - por tão simples o lugar. E, de fato, se come bem e barato. Josimar resenha um restaurante “sino-peruano” que abriu no Itaim.
Nina Horta continua com os uniformes. Visita Roland Barthes e Saussure. Eu acho que uniforme enquadra as pessoas num comportamento esperado, independente da boniteza. Só isso. E lembro uma crônica insuperável de Graciliano Ramos sobre uniformes: um matuto que apanha da polícia por nada; acaba indo para a cidade grande e volta, anos depois, envergando um uniforme de soldado amarelo, esquecendo o nome das coisas mais comezinhas, ficando monotonamente sentado na praça pública a desafiar (“nessa cidade não tem homem!”), indo, depois, para a encruzilhada, tomar facas dos matutos e distribuir uns sopapos gratuitos. A força do uniforme é tudo.
Uma pergunta: por que Paladar tem páginas de anúncios e Comida tem quase nada? Há leitores de 5ª nas agências de publicidade?
13/09/2012
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1 comentários:
essa volta ao passado.. valorização do "natural"..do "artesanal"..e a consequente demonização do "industrial", carece de críticas com bom senso e inteligência, como no seu texto.
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