11/04/2013

Não existe queijo minas feito na Alemanha; nem mesmo em Minas sem leite cru!


Paladar de hoje traz matéria de capa sobre a afinação de queijos. Pretende mostrar “detalhes importantes do processo de evolução”.

O conceito de maturação utilizado é, contundo, muito limitado: “maturar ou afinar um queijo é basicamente esperar que ele perca umidade”. Seria melhor dizer: permitir que os fungos e bactérias do leite se desenvolvam em condições controladas (de luz, temperatura e umidade) enquanto o queijo vai se trasformando e perdendo água.

Em segundo lugar, a matéria toma um casciotta - queijo fabricado na Alemanha, da marca Bergader, à venda no mercado - como se fosse um “minas meia cura” que, maturado, “lembrou um bom canastra”. Ok, é um bom queijo industrial, mas não um canastra. Sequer é um verdadeiro casciotta.

Aliás, o maior problema da matéria é a sua seleção de “canastras”: da marca Brinco de Ouro, da marca Tirolez (minas padrão) e um “minas de Araxá”, que diz ser artesanal. Mas todos sabemos que os queijos “de marca”, comercializados com o SIF, como o Brinco de Ouro e o Tirolez, o são por serem de leite pasteurizado. E, uma vez por todas, é preciso ter presente que não existe queijo mineiro de qualidade que não seja de leite cru! O tal “minas de Araxá”, o único artesanal da prova, “era o unico de sabor mais intenso na categoria. Amarelado, tem textura com mais liga e boa acidez”. Mesmo assim, um Araxá não é um Canastra.

Não é uma boa matéria aquela que põe em teste o que não é um “queijo minas” artesanal, de leite cru, mas os seus simulacros feito de leite pasteurizado. Assim como não é boa matéria aquela que alinha um casciotta na categoria “minas meia cura” que “lembra um bom canastra”. O Casciotta d'Urbino  é um queijo de denominação de origem controlada, elaborado com um mistura de leite de ovelha e de vaca. O “canastra”, que não esteve representado na prova, elaborado só de leite de vaca, também tem origem clara, e é controlado pelas autoridades sanitárias sob o pior pretexto: impedir que ele circule nacionalmente por ser de leite cru.

7 comentários:

Marcus Ernani disse...

O que esta matando o queijo minas é a ANVISA e o SIF. Brevemente teremos o queijo "tipo" minas....tipo qualquer coisa. Parabens aos burrocratas que estao transformando a cultura do artesanal no brasil em algo pasteurizado, padronizado e idiotizado!

Anônimo disse...

Recentemente participei de um debate onde o alvo era novamente a suposta ausência de tradição da gastronomia paulista. Corretamente, foi contra argumentado como simples exemplo que as
cidades mais antigas de MG , como O. Preto e Mariana foram fundadas por paulistas, que certamente não chegaram lá comendo pizzas. Existe uma apropriação cultural , facilitada pela S. Paulo que renega suas origens , ao contrario do RS, que se orgulha de seu nativismo rural.

Anônimo disse...

Ótimo post. Também tenho observado o pouco conhecimento dos brasileiros quando se tratam de produtos típicos (tradicionais). Mesmo em MG, é difícil encontrar uma pessoa que saiba diferenciar queijo Minas do Padrão ou de um simples frescal. Faço uma observação ao seu post, o queijo Brinco de Ouro é feito de leite cru diretamente em fazendas da região do Alto Paranaíba, porém passa por um período de 60 dias de maturação em entreposto com SIF, por isso de livre comercialização em qualquer estado do Brasil.
Abraço,
Rafael.

Anônimo disse...

Acho bom deixar claro que a matéria não classifica os queijos Brinco de Ouro, Tirolez (minas padrão) e “minas de Araxá” como Canastra, e sim como Minas meia-cura. Na minha opinião não está errado, pois dentre os diveros queijos chamados de Minas, encontram-se queijos artesanais e industrializados (Frescal, Padrão, Artesanal). Já o nome Canastra (legítimo Minas Artesanal) produzido unicamente com leite cru, em propriedades de 7 municípios (Bambuí, Delfinópolis, Medeiros, Piumhi, São Roque de Minas, Tapiraí, Vargem Bonita) localizados em torno da Serra da Canastra, possui Identidade Geográfica reconhecida e não possui "versão" industrializada.

e-BocaLivre disse...

Sim, está claro, Anonimo, embora misturado. Se alguém quiser comprar queijo artesanal, de leite cru obviamente, de qualquer denominação mineira, é melhor procurar aqui: http://www.sertaobras.org.br/queijo/onde-encomendar-seu-queijo/

Unknown disse...

Aqui em Alagoa (Sul de Minas) é elaborado um delicioso QUEIJO ARTESANAL DE LEITE CRU!
Como foi um italiano que começou a fazer o queijo aqui em Alagoa (há mais de 100 anos) batizou de "Parmesão", mas estamos na luta para certificarmos a denominação de origem: Queijo Alagoa, pois só aqui pode ser produzido este tipo de queijo (terroir).
Quebrando as regas, assim como o MestreQueijeiro.com.br, também vendo pela internet no sítio: www.queijodalagoa.com.br
Abs.
Osvaldo Filho

Weverton Lucas disse...

Ótimo post

filmedabarbie.com

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