12/09/2013

Comida de rua II


“Não deixa de ser digno de reparo ver que das casas mais opulentas desta cidade, onde andam os contratos e negociações de maior porte, saem oito, dez e mais negros a vender pelas ruas da cidade, a pregão, as coisas mais insignificantes e vis, como sejam mocotós, isto é, mãos-de-vaca, carurus, vatapás, mingaus, pamonhas, canjicas, isto é, papas de milho, acassás, acarajé, abarás, arroz de coco, feijão de coco, angus, pão-de-ló de arroz, o mesmo de milho, roletes de cana, queimados, isto é, rebuçados, a 8 por um vintém e doces de infinitas qualidades, ótimos, muitos, pelo seu asseio, para tomar por vomitórios; o que mais escandaliza é uma água suja feita com mel e outras misturas chamada aluá que faz por vezes de limonada para os negros” (Luis dos Santos Vilhena, A Bahia no século XVIII, Salvador, Editora Itapuã, 1969, volume 1, pág. 130).



O comércio de rua é secular no Brasil. Depois, os comerciantes estabelecidos triunfaram sobre ele. E o aprisionaram sob a pecha de “anti-higiênico”. O período de José Serra na Prefeitura foi o auge do higienismo. A partir de 2007, a Prefeitura não concedeu mais alvará para comércio de alimentos nas ruas. 

Apesar disso, quem passe pela Hadock Lobo verá um “food truck” estacionado permanentemente diante do Hotel Renaissance, vendendo de tudo, cobrando até com cartão de crédito. Como ele foi parar ali? É um caso a se estudar para melhor conhecer as práticas, formais e informais, emanadas dos agentes públicos...

Ironicamente, foi o ultra-serrista Andrea Matarazzo o autor do projeto aprovado em primeira votação que regulamenta o comércio de rua. Já comentei isso aqui quando da apresentação do projeto. Agora, Paladar e Comida dão destaque ao assunto, depois da primeira votação. A acrescentar:

  1. a regulamentação “fixa” o ambulante, o que parece um contra senso. O modelo norte-americano de food truck (tem chef, chefinho e chefete já usando essa expressão por aqui, como se o português falhasse) serviu de fonte de inspiração para o vereador. Ele deixa de fora, portanto, o ambulante. Se o camarada quiser sair por ai, deambulando à busca de clientes, NÃO PODE! Por que?
  2. o assunto é tratado como se fosse uma questão de estacionamento. Não é à toa que o CET está envolvido.
  3. cria-se uma nova burocracia para autorizações em cada regional da Prefeitura. Tudo será tratado caso a caso. Por que a cidade não é loteada como no caso da Zona Azul? Simples ato administrativo, sem precisar novas burocracias.
  4. O aspecto sanitário será regulado a posteriori. Não é este o aspecto mais importante?
  5. Ao limitar a licença a um único CNPJ opta-se por um modelo economico de exploração. Por que a Prefeitura acha isso necessário? Que mal haveria na formação de empresas maiores? Os pequenos estão para sempre condenados à pequenez?
  6. Afinal não se trata de criar um serviço de novo tipo? Quais as necessidades a que ele deve atender?

Enfim, este é só o começo de um longo curso de questionamentos necessários.
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1 comentários:

Anônimo disse...

Olá.
Belo texto. Só uma coisa: o link para o artigo anterior está quebrado. O correto é: http://ebocalivre.blogspot.com.br/2013/09/comida-de-rua.html
Abzz

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