Essa coisa nervosa, sem limites e que dá a impressão de que estamos sempre em atraso com o tempo, desatualizados mesmo. Isso é a metrópole do ponto de vista subjetivo. Uma subjetividade na qual mergulhamos sem saber ao certo por que… São tantos os restaurantes inaugurados um após o outro que a gastronomia parece ser a expressão material mais acabada desse delírio metropolitano.
Mas, pense um pouco. Digamos que você queira construir uma vivência própria em meio a tanto movimento e mudança. Que você queira um porto seguro. Ai, vale mais olhar para trás do que para a frente, não é mesmo? Quais os restaurantes a que você foi e que realmente acrescentaram algo prazeiroso em sua vida? Onde você não se cansa de voltar? Cada um tem os seus preferidos, onde vai à busca do descanso nesse movimento de, sem pausa, encontrar o novo. Só por esse raciocínio podemos entender a persistência de lugares como o Nello´s, por exemplo, que dificilmente estaria entre “os melhores” sob um critério qualquer, dentre tantas modas mutantes.
Mas o Nello´s é esse lugar onde podemos comer um fetuccini molenga com alcachofras, em qualquer época do ano. Há dias em que se precisa disso, e é possível relevar o mole do fetuccini. Me dá um conforto danado. Afinal de contas, você pode ter adquirido esse hábito prazeiroso antes mesmo da moda do “al dente” chegar ao Brasil, por conta do desembarque da nouvelle cuisine na Itália, ou ser uma pessoa fora do seu tempo, tendo-o adquirido agora mesmo.
Dentre as metrópoles que conheço, talvez só Buenos Aires saiba o valor exato desse recorrência alimentar. Há centenas de lugares mais que centenários na cidade, onde ainda se come bem se formos capazes de entender que o “comer bem” é uma moda e que a tolerância a um certo passadismo não faz mal a ninguém. Entre nós, destaco o Carlino, naquele mesmo canto da cidade hoje revalorizado pela Casa do Porco e outros que pipocam por ali formando nova moda. É possível comer bem no Carlino. Nem tudo, mas sempre foi assim.
A história da cidade vai peneirando os lugares e, nesse peneirar, você também fez suas escolhas que podem ser duradouras, caso não fique ansioso à busca da quintessência das novidades que nos fazem, num piscar de olhos, esquecer a nossa própria história de prazeres.
É um exercício de autocontrole muito grande dizer-se: “hoje não quero saber de novidades!”. É como reconhecer que sua vida não é esse presente contínuo infinito, mas que se compõe também de memórias esquecidas. Todos trazemos memoriais culinárias que se transformaram em nossas preferencias de hoje diante de novos desafios à mesa, parecendo ser, elas também, “novidades”.
Assim como você está disposto a fazer o seu “dia sem carro”, tente fazer o seu “dia sem novidades”. Você irá descobrir um eu silencioso dentro de si que pode indicar vários caminhos de volta àquela parcela sua que, um dia, se perdeu sem você se dar conta. Pedaços do seu paladar que enroscaram aqui e ali.
Nem sempre o passado é uma roupa que não nos serve mais.
Nem sempre o passado é uma roupa que não nos serve mais.
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