Já está suficientemente claro que o cardeal Odilo Scherer agiu por vários anos como lobista da "farinata": foi ele quem levou o projeto de lei que beneficia o produto ao deputado Arnaldo Jardim; foi ele quem envolveu o prefeito de São Paulo na aventura da "ração dos pobres".
Sua ação ao lado da Plataforma Sinergia comprova o papel desse think tank católico, ao que parece em consonância com interesses da grande indústria alimentar e também da indústria de tratamento de resíduos sólidos. Só com sua autoridade de Cardeal poderia ter congregado tantas instituições católicas em apoio: a PUC-SP, a Caritas, a CNBB, além do apoio institucional da Diocese.
Agora essa Plataforma Sinergia vive o constrangimento de que alguns dos alegados apoiadores - como a FAO, o Sesi, etc - a desautorizaram, inclusive publicamente. E a estratégia mudou: ao perder apoio, o think tank passou a "proteger" seus apoiadores com o sigilo. Se pretendia arrotar força, mostra agora sua fraqueza e propósitos inconfessos na sequencia do lobby.
Não se ensina o Padre Nosso a um bispo, mas o que me ocorre é indagar qual é o papel de um bispo da Igreja Católica. Não seria mais digno propor idéias às claras, discutir com os vários segmentos da própria Igreja e com a cidadania? Ouvir abertamente áreas técnicas? Que a Igreja trate seus seguidores como "rebanho" é coisa que se entende, até pelas metáforas bíblicas. Mas que trate de modo "carneiril" os cidadãos paulistas mostra a falta de aggionamento, de percepção de que a liderança messiânica já não cabe numa sociedade moderna que se quer democrática, plural, governada por um estado laico. Um bispo, até pela sua responsabilidade publica, não deveria buscar jamais "soluções pelo alto".
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