08/01/2018

A glamourização que impulsiona o queijo Canastra

Bem interessante a matéria do Estadão nesse domingo, assinada por Renée Pereira, sob o título “Queijo Canastra deixa a roça”. Ela dá conta de uma nova geração de queijeiros da Canastra, dos municípios em torno de São Roque de Minas, que abandonam perspectivas profissionais urbanas ou rurais de nível superior (formados em veterinária, arquitetura) para se dedicar à produção do queijo Canastra.



Aparentemente essa sucessão geracional e de formação cultural, de produtores tradicionais por jovens com formação típica de classe média, só foi possível porque o Canastra se “gourmetizou”, isto é, conquistou mercados urbanos distantes, como São Paulo, melhor remunerando o produtor. Hoje, um Canastra maturado por mais de 60 dias, com certificação da APROCAN - Associação dos produtores de queijo Canastra - sai por R$50 na origem, contra os tradicionais R$15 do queijo dos não-associados.

Foi uma longa luta, em muito emulada pela SertaoBras, que chamou a atenção nacional para a necessidade de revisão da legislação restritiva, que confinava o queijo ao estado de Minas Gerais, e o promoveu além-fronteiras do estado.

Hoje o queijo tem prestígio incontestável, o que serviu para alavancar seu preço. Remunerando melhor o trabalho, atraiu jovens de classe média para a sua produção. Acontece, então, no campo, conforme a matéria sugere, algo semelhante ao que se deu, décadas atrás, em relação à profissão de cozinheiros - transformados em “chefs” por um glamour então crescente, que expulsaram das cozinhas os antigos proletários. 


Tudo isso dá o que pensar para os jovens que fazem o movimento “em direção ao campo”, levados por uma ideia de sustentabilidade, de nobilitação do artesanato agroalimentar. Ao que tudo indica, a luta pela afirmação desse artesanato trava-se nas cidades mais do que no campo, através da “glamourização” de certos produtos tradicionais rurais num conjunto de ações capaz de ampliar a demanda, a necessidade do consumo que, obviamente, levará à ampliação da oferta. Este trabalho de natureza ideológica nem sempre é considerado na sua importância.

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