Há muito
tempo chefs, chefinhos e chefetes buscam empunhar a bandeira da
responsabilidade social, do ativismo e da assistência social. Vira e mexe há um
jantar, de preferência a várias mãos, angariando recursos para causas sociais,
como hospitais do câncer, etc.
Talvez seja
mesmo muito difícil que encontrem uma área específica de militância social,
pegando carona em iniciativas mais amplas para as quais foram “convidados” a
dar sua colaboração benemerente.
Quando encontram
um território que lhes diz respeito, é uma beleza de se ver. Como no Banquetaço:
muitos assinaram manifesto; um punhado arregaçou as mangas, cozinhou e serviu
uma população de desempregados no centro da cidade em protesto contra a “farinata”,
ou ração dos pobres, que a prefeitura de João Dória queria impingir às escolas
infantis e aos moradores de rua. Boa responsabilidade pela vitória cabe a esses
chefs valorosos que deram a cara para bater, mesmo alguns temendo represálias
de prefeitura.
Isso precisa
ser lembrado porque, de novo, requer-se a participação dos cozinheiros contra a
ameaça de envenenamento crescente da população pela nova política de
agrotóxicos que o governo começa a desenhar a partir do PL 6299 ou “pacote do
veneno”.
O que se
quer fazer através desse expediente legal, proposto pela bancada ruralista, é
uma barbaridade: o descontrole sobre uma ação já pouco controlada que resulta num consumo involuntário de mais agrotóxicos e de novos tóxicos sequer
experimentados em parte alguma. Seremos nós a nos tornarmos cobaias para o
mundo.
Quem resiste?
Entidades e militantes da agroecologia, ambientalistas, profissionais de saúde e da educação pública e
poucas, pouquíssimas pessoas ligadas à oferta alimentar em restaurantes. É
preciso fazer alguma coisa? Não, é preciso fazer muita coisa!
É preciso
travar uma luta sem quartel pela alimentação de qualidade nutricional,
sanitária e saudável em todos os sentidos.
Todos os
cozinheiros sabem (ou deveriam saber) o quanto o salmão é um perigo à saúde humana.
Deveriam saber também que o mesmo ocorre com o pimentão, o tomate, o pepino, o
abacaxi...
Como muitos
sucumbem diante da “demanda do mercado” e servem salmão em seus cardápios, um
número ainda maior serve pimentão, tomate, pepino, abacaxi e assim por diante,
sem parar um segundo sequer para refletir que estão envenenando sua clientela.
Não é para
menos. As faculdades de gastronomia, por exemplo, formam cozinheiros que jamais
se prepararam para tanto, embora tenham sido preparados para o rigoroso
controle biológico. Os mais aplicados, sabem de cor as normas sanitárias. O que não se
dão conta é que vivemos uma era “pós-biológica” em matéria de saúde, quando já é insignificante evitar a "contaminação cruzada" por bactérias. Vivemos uma era químico-intoxicante
e, portanto, cozinheiros precisam se preparar para contornar esses riscos antes de ampliarem o mal involuntário feito aos seus clientes.
Os que são
conscientes, os que não querem se tornar agentes da morte no médio e no longo
prazo, precisam mudar de atitude. Banir o salmão, banir os alimentos
comprovadamente intoxicados com venenos utilizados nas lavouras. Proclamar aos
quatro ventos o compromisso com a vida e a saúde. Mudar também de práticas,
adotando os alimentos agroecológicos no lugar dos seus similares envenenantes.
Precisam
fazer manifestos, abaixo-assinados, propagandear a nova atitude prática,
cultivar a ideia de saúde em cada gesto, em cada prato que preparam. Que tal, por exemplo, criarem um selo certificador do tipo "Nós banimos os agrotóxicos", tão mais fácil e útil do que conquistar o almejado Michelin ou "Prazeres (sic) da Mesa"? Há tantas entidades que poderiam fazer isso!
Assim,
estarão fazendo muito mais pela luta contra o câncer do que um jantarzinho
solidário com alguma instituição que cuida desse mal. Estarão lutando contra as
causas, em vez de se concentrarem na minoração das conseqüências. E estarão tocando a consciência de uma clientela igualmente alienada, quando pede salmão etc.
Cozinheiros!
É o momento histórico de assumirem a responsabilidade social! Organizar-se e marchar
para um futuro melhor é o que se requer dos que escolheram essa profissão tão
importante para a administração da saúde e que não pode se tornar, por alienação, agente da morte.
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