15/03/2012

Goiabada requentada

Semana passada, seguindo talvez inconscientemente uma tendência, essa coluna saiu de férias e viajou para Belém. Mas isso é assunto para outro dia.

Hoje temos a “requentagem” como tema. Paladar traz uma capa sobre as melhores cervejas de supermercado, reeditando capa sobre melhores vinhos de supermercado, conforme a edição de 17 de fevereiro do ano passado. É a meta-capa. Digamos que vinhos é assunto bem mais interessante, mas valeu a informação de que a Pilsner Urquell está a R$ 14,50 no Mambo.

Depois, temos a “requentação” de matéria já publicada sobre goiabada. Essa capa foi em 16 de junho de 2011, quando escrevi alguma coisa sobre a transformação da marmelada portuguesa em goiabada. Acho duas “requentadas” um pouco troppo. Fundo de gaveta, "rapa do tacho"...

De novidade boa que Paladar anuncia temos a abertura da rotisserie de Ana Soares, ao lado da sua oficina. Projeto arquitetonico requintado, de Felipe Crescenti, e a cozinha sempre primorosa dela. Também matéria interessante sobre os restaurantes de rua que migraram para shoppings, atendendo à nova estratégia de marketing desses espaços comerciais que querem apostar em sofisticação e “exclusividade”, atingindo um público que não frequenta praças de alimentação.

Luiz Horta faz incursão pelo Vale dos Vinhedos. Ele nos diz que os vinhos brasileiros perderam seus defeitos clássicos. Destaca 15 rótulos que devem provar a sua tese. Sou tão cético quanto São Tomé, mas vamos dar esse crédito aos vinhos, já que é Luiz Horta seu advogado. E vamos ver se não custam mais que espanhóis, argentinos e portugueses, melhor posicionados no ranking da credibilidade.

Luiz Américo nos remete a um restaurante polonês. As vezes tenho saudades do Hungaria e seus violinos. Parece que o lugar não mata essas saudades, inclusive pela televisão no salão. Mas, de qualquer modo, é passar um dia por lá para comer centro-europeidades.

A capa do Comida, reportagem de Luiza Fecarotta, é o elogio do “orgânico” e do “sustentável”, esses mantras modernos da alimentação. É claro que não queremos agrotóxicos nos nossos brócolis, nem hormônios nos frangos, mas isso, cá entre nós, é o mínimo!!! O mínimo de respeito que o consumidor merece. E por consistir no mínimo, não configura virtude, a não ser quando rebaixamos nossos níveis de exigência. Mas, por esses absurdos da vida sob o capitalismo, tornou-se virtude não envenenar o outro.

Isso provocou subversões conceituais. Palavras como “orgânico” e “sustentável” são, ou abusos linguisticos ou verdadeiros paradoxos. Não vou me repetir aqui. Apenas registrar que a difusão desses conceitos ambíguos talvez nos impeça de avançar no sentido de construir um verdadeiro movimento reinvindicatório pela melhoria da qualidade das matérias-primas alimentares. Mas, como se apresenta o problema, parece que tudo depende de uma simples decisão individual do produtor.

Fecarotta deveria ter dedicado mais do seu precioso tempo e inteligencia a isso. Mas a edição do jornal resolveu revisitar, pela milésima vez, o bauru do Ponto Chic. E lá vai Fecarotta resenhar um livro da história do bar... Melhor seria investigar se, de fato, “alimentos sem agrotóxicos (tem) sabor mais característico”. Não sou capaz de atingir essa compreensão sobre os “orgânicos”.

Josimar Melo resenha o Girarrosto. Abaixo da resenha, matéria sobre um hotel em Londres onde é possível tomar um banho de champagne a 25 mil libras esterlinas. Juro que fiquei sem saber o que isso tem a ver com gastronomia, e, portanto, de onde veio o interesse do Comida.

O jornal nos informa, ainda, que Rodrigo Oliveira põe em marcha seu Mocotó Café. No futuro, teremos na Nossa Senhora do Loreto uma praça de alimentação de evocação nordestina.

Nas colunas, Corvo chama a atenção para o beaujolais village, que está longe de ser essa porcaria propagada pelo marketing do beaujolais nouveau. Concordo integralmente. Barcinski se rebela contra projeto de lei que proibe bebida nas ruas. Talvez ele goste de tomar o seu chopp na calçada e está no seu direito de protestar. Eu não gosto. E não gosto desse babysitterismo dos legisladores também. Ambos tornam a cidade pior. Nina Horta se rende a Alex Atala.

Amanhã haverá uma “sabatina” com Atala, promovida pela Folha. Estarei lá como “sabatineiro”. Vamos ver o que conseguimos arrancar de novo do estrelado chef. Não é fácil, pois, em geral, como todo cara esperto, fala só o que quer.

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