14/06/2012

Longe dos motéis, na Amazônia

Semana passada, leitor de 5ª desanimou. Comida de motel (Comida) pela segunda vez, e o elogio de sorvetes que, em geral, são feitos a partir de mix industrial (Paladar) por conta de um festival de sorvetes artesanais onde os brasileiros estavam impropriamente representados. Agora, capa sobre Amazônia (Comida) é sempre animadora. Tem cheiro de epopéia. Enquanto isso, o Paladar inventa problemas para vender soluções: “a maionese, o molho mais perseguido do mundo” (????)

Luiza Fecarotta foi lá, convidada pelo patrocinador (Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes), em uma expedição-Rondon em nome do refinamento gastronômico. O objetivo da expedição era identificar produtos e produtores com o propósito de elaborar um guia. Fecarotta viu as coisas de sempre, de ângulos particulares, pois, afinal, a Amazônia é simplesmente imensa. Muita coisa “sustentável” e outro tanto “orgânico”. A mata é orgânica, não é?

Matéria de oportunidade no Comida: Renato Carioni bola dois pratos tendo a sopa Campbell’s como ingrediente. Homenagem a Andy Warhol, claro, com mostra no MIS até o dia 24. Mas é aquela coisa: uma professora do Senac diz, na matéria, que “produtos em conserva tem origem na era napoleônica (entre os séculos 18 e 19)”. Carne seca, jabá, doces em calda, fermentados, são conservas que não são tão novas assim, não é professora?

Bom, mas Carioni improvisou um gratinado de batata com creme de cogumelo-sopa. E um tortelli de pato. A receita do gratinado está lá. Parece uma gororoba. E o tortelli de pato? Tem a foto, e nada da receita, que intuo ser melhor do que o gratinado. Coisas da editoria do jornal. Carioni também está lá, no Paladar, defendendo a sua maionese trufada que abafou na Virada Cultural.

Josimar resenha o novo restaurante Mobili. Ele gostou bem mais do que eu. Certamente o espaguete com frutos do mar, saboroso, que ele e eu comemos em dias diferentes, tinha os pontos de cozimento dos ditos frutos bem diferentes. Acontece. De sobremesa, um tal orgia de chocolate trazia uma mousse com um creme de leite condensado e maracuja; uns morangos banhados em chocolate nos quais se apoiavam colherinhas feitas de chocolate ao leite, bem industrial, e outras brincadeiras. Mais uma sobremesa de motel do que a de uma refeição que se pretenda autoral. E o restaurante tem dois chefs: Daniel Oppenheim e Beto Tempel. Muito chef para pouca cozinha.

Sou de opinião de que a gastronomia é filha do artesanato. Nela não cabem leite condensado, nutella, Campbell’s e assemelhados. No começo são “brincadeiras”, mas elas se instalam no coração do trabalho culinário e vão corrompendo a inteligência, a pesquisa e a experimentação.

Luiz Américo resenha duas pizzarias nascidas fora de São Paulo: em Caconde e em Belo Horizonte. Uma em Perdizes, outra nos ditos jardins. Ele diz que vale a pena conhecer, pela novidade...

Patricia Ferraz fala da nova e deslumbrante loja da Mistral no shopping JK, que um dia abrirá, mesmo sem ter feito a obra exigida pela prefeitura (você verá!). O projeto de Arthur de Mattos Casas é moderno, discreto, tecnológico, segundo Patricia. E há o anuncio de um winebar anexo com pratos elaborados por Paola Carosella.

Alexandra Corvo evoca vinhos para o inverno na praia. Um deles o Filipa Pato Ensaios. Uma das mais saborosas cacofonias. Outro, um Greco di Tufo, trazido pela Mistral. Só falta a chuva parar, o tempo firmar. Já o Paladar apresenta cervejas da estação. E Luiz Horta fala dos vinhos “en primeur”, o luxo dos verdadeiros apreciadores da bebida que podem conhece-la antes mesmo “pronta”.

Muito interessante a matéria do Paladar sobre um lugar na Suécia onde você pode deixar o seu fermento para que tomem conta. Enfim, um negócio que se desenvolve à sombra do mito o fermento particular que tem a cara do dono. Melhor que hotel de cachorro...

3 comentários:

Anônimo disse...

xuxu, não precisa o tempo firmar pra tomar aqueles vinhos....são ótimos no frio e sob chuva...mas na praia, bien entendu!ale corvo

e-BocaLivre disse...

Não gosto que chova na minha taça...

Alfredo Eb disse...

Obrigado pela primeira gargalhada do dia:
" Melhor que hotel de cachorro..." Muito bom !

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