Têm sido tantas as denúncias sobre as cadeias de alimentação proteica (carnes bovinas e suínas, frangos, peixes de criadouro) que algumas grandes empresas de produção de frango, por exemplo, trataram de se esconder atrás do biombo dos chefs-stars para preservar parte do valor de suas marcas.
A sociedade que, aos poucos, vai tomando consciência da podridão que há na cadeia alimentar (especialmente como fruto da forma de confinamento e da alimentação dos próprios animais), encontra suas defesas no não-consumo revestido de justificativas nem sempre racionais e de caráter religioso ou para-religioso. O fato de a “alimentação saudável” só encontrar abrigo ai é um libelo condenatório de parte da indústria alimentar.
Escândalos como o da “vaca louca”, do hambúrguer de cavalo, dos salmões, panga e bacalhau de aquicultura (ver Peixe, criação em águas turbulentas: https://www.youtube.com/watch?v=TVLVFA_FvxA) mostram com clareza os riscos à saúde a que os consumidores estão expostos. E mostra também a omissão, cumplicidade ou ineficácia da ação pública preventiva.
Mas o extraordinário é que não existam Ongs voltadas à alimentação que denunciem e pressionem o poder público para colocar ordem nessa seara. É como se o pensamento crítico renunciasse ao ideal de uma alimentação saudável para as grandes massas, preferindo agir restritivamente, construindo oásis de acesso limitado, baseados no artesanato.
É bom que existam alternativas assim, mas não é bom que se deixe o grosso da população ao deus-dará da indústria. Tome-se o caso do salmão: é mais do que hora para se adotar ações indicando aquele comércio indiferente ao estado calamitoso da produção de salmão de granja, apontando publicamente quem vende esse produto vis a vis comerciantes responsáveis que procuram alternativas a ele. Quem faz isso? Hoje, ninguém. Muito menos a imprensa que se acumpliciou com a grande indústria e comercio.
Houve uma época em que grandes redes de supermercado se recusaram a comercializar carne bovina proveniente de desmatamentos da Amazônia. O que falta são agentes capazes de analisar as mazelas dessas cadeias proteicas, capazes de denunciar os aspectos mais críticos para a saúde e capitanear campanhas públicas visando reverter o quadro.
Os poderes públicos, nós sabemos, apesar de deterem conhecimento crítico, estão longe de liderar as mudanças necessárias. Veja o caso da Anvisa, mais voltada para achar pêlo em ovo do que normatizar essas cadeias alimentares em benefício do cidadão consumidor.
Portanto a saída será a criação de Ongs que façam essa advocacia do consumidor. Para tanto é preciso que os militantes, em geral dispostos a empreender nessa direção, pensem nos grandes números, na coletividade, em vez de quererem salvar poucas almas.
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