Há quatro anos
manifestei o desejo (ou esperança) de que a culinária brasileira seguisse um
caminho capaz de “transformar o cozinheiro num personagem culto da cena
urbana, especialmente no que tange ao conhecimento da cultura culinária”
(Formação da culinária brasileira, pág. 233).
Quatro anos se
passaram e esse ideal parece ter ficado mais distante. Ouviu-se muito sobre o
engajamento com o pequeno produtor, transformado em “fornecedor”; sobre
sustentabilidade, entendida como “agora ele se viram”; sobre as PANC,
entendidas como um novo começo de tudo. Mas também houve uma saturação
com o modo de ser gourmet. A gourmetização das coisas encheu o saco do
consumidor. Então, os cozinheiros famosos resolveram gourmetizar a si próprios
- o último bastião do encantamento que produziram outrora.
Não se sabe
exatamente como e onde começou, mas de repente os chefes atuais e futuros
tornaram-se estrelas de TV, garotos propaganda: vendedores de carros, imóveis,
panelas, redes de supermercados, frangos de granja, etc. Emprestaram seu aval
para essas coisas. Eles que se vendiam como campeões do bem, capazes de “salvar
o mundo” pela alimentação, substituíram essas coisas abstratas por marcas
comerciais bem concretas. E passaram a ganhar centenas de milhares de reais
para alugar seu prestígio angariado nas cozinhas para coisas que nada tenham a
ver com o cozinhar, ou tenham no pior sentido do termo… Fazem parte da casta
dos MasterProfit.
A maior parte deles
já nem aparece no “cenário cozinha”. As dolmãs, as panelas, os fogões, ficaram
para trás. O ambiente nervoso, competitivo dos MasterS qualquer-coisa, parece,
agora, ser seu habitat natural. A publicidade comeu a cozinha, libertou os
chefs para ganharem seu honesto dinheirão sem sequer precisar ligar o fogo. E
esse o ideal dos que vêm atrás (exceto carinhas como Lorenzo Ravioli, menino
que tem que pagar um tributo ao tio-cozinheiro).
Então, por que
expor-se de peito aberto, combatendo a bancada ruralista e seu
desejo/necessidade de envenenar nossa comida, nosso solo, nossas águas?
(para ficarmos num só
e gravíssimo exemplo...)
Uma culinária ou uma gastronomia que não se
desenvolve colada na cultura de um povo de nada serve – exceto de trampolim
dos cozinheiros para o mundo da publicidade. E foi isso o que aconteceu. Resta
esperar nova safra...
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