12/05/2018

Os chefs MasterProfit e seu novo ideal



Há quatro anos manifestei o desejo (ou esperança) de que a culinária brasileira seguisse um caminho capaz de “transformar  o cozinheiro num personagem culto da cena urbana, especialmente no que tange ao conhecimento da cultura culinária” (Formação da culinária brasileira, pág. 233).

Quatro anos se passaram e esse ideal parece ter ficado mais distante. Ouviu-se muito sobre o engajamento com o pequeno produtor, transformado em “fornecedor”; sobre sustentabilidade, entendida como “agora ele se viram”; sobre as PANC, entendidas como um novo começo de tudo.  Mas também houve uma saturação com o modo de ser gourmet. A gourmetização das coisas encheu o saco do consumidor. Então, os cozinheiros famosos resolveram gourmetizar a si próprios - o último bastião do encantamento que produziram outrora.

Não se sabe exatamente como e onde começou, mas de repente os chefes atuais e futuros tornaram-se estrelas de TV, garotos propaganda: vendedores de carros, imóveis, panelas, redes de supermercados, frangos de granja, etc. Emprestaram seu aval para essas coisas. Eles que se vendiam como campeões do bem, capazes de “salvar o mundo” pela alimentação, substituíram essas coisas abstratas por marcas comerciais bem concretas. E passaram a ganhar centenas de milhares de reais para alugar seu prestígio angariado nas cozinhas para coisas que nada tenham a ver com o cozinhar, ou tenham no pior sentido do termo… Fazem parte da casta dos MasterProfit.

A maior parte deles já nem aparece no “cenário cozinha”. As dolmãs, as panelas, os fogões, ficaram para trás. O ambiente nervoso, competitivo dos MasterS qualquer-coisa, parece, agora, ser seu habitat natural. A publicidade comeu a cozinha, libertou os chefs para ganharem seu honesto dinheirão sem sequer precisar ligar o fogo. E esse o ideal dos que vêm atrás (exceto carinhas como Lorenzo Ravioli, menino que tem que pagar um tributo ao tio-cozinheiro).

Então, por que  expor-se de peito aberto, combatendo a bancada ruralista e seu desejo/necessidade de envenenar nossa comida, nosso solo, nossas águas?
(para ficarmos num só e gravíssimo exemplo...)

Uma culinária ou uma gastronomia que não se desenvolve colada na cultura de um povo de nada serve – exceto de trampolim dos cozinheiros para o mundo da publicidade. E foi isso o que aconteceu. Resta esperar nova safra...

0 comentários:

Postar um comentário