Editorial da Folha de hoje analisa a polemica em torno do pacote do veneno. Desenvolve um raciocínio que
pretende ser “equilibrado” e busca um “meio termo” dizendo, entre outras coisas, que “é fantasioso imaginar, como parecem fazer setores da militância ambientalista,
que a produção de alimentos para atender grandes contingentes tenha condições
de prescindir do uso de pesticidas. O alarmismo dos opositores não contribui
para o debate”.
Blairo Maggi declarou há
algum tempo que poderia perfeitamente produzir soja orgânica, bastando “o
mercado” demandar. Circula também pela internet um vídeo de Leontino Balbo, da fazenda São Francisco (SP), produtor da cana que resulta no açúcar orgânico
Native, que aponta o estigma sobre a
agricultura orgânica, a exemplo do que a Folha expressa, e demonstra que a “agricultura
orgânica revitalizadora”, que a fazenda adota em 20.000 hectares, pode permitir
uma redução de 70% no uso de agrotóxicos nos grandes cultivos (cana, soja,
milho, algodão) e, por isso mesmo, propiciar um aumento de produtividade de 23%
em relação ao cultivo convencional. Há portanto um “gap” de conhecimento dessa grande
imprensa ao classificar como “alarmismo” a oposição dos ambientalistas ao
pacote do veneno, contra-argumentando com a "produtividade".
A defesa do mercado é sempre
algo orientado por maiores lucros, e caberia aos seus defensores no mínimo explicitar
quais são as razões para a pretensão da bancada ruralista para intensificar o
uso de venenos na atual conjuntura. Por
exemplo, traçar um amplo panorama sobre o mercado mundial de agrotóxicos, as
restrições recentes que lhes são impostas em outras partes do mundo (Europa, China...)
de modo a procurarem criar um “paraíso” (ou seria
“inferno”?) para a sua produção em maior escala.
“inferno”?) para a sua produção em maior escala.
Se o aspecto principal para os defensores dos venenos é frisar a produtividade do trabalho, há que considerar
também que o mais importante é aquilo que efetivamente se converte em alimento
humano, em coisa útil, levando em conta também as altas taxas de desperdício em
toda a cadeia alimentar, e não apenas o elo agrícola dessa cadeia.
A “revolução verde” parece
ter chegado ao seu limite e não pode ser mantida à custa de mais veneno, nem do
avanço da fronteira agrícola sobre as matas nativas. O que se exige de todos –
produtores, cientistas, governos – é o esforço para superação desse modelo que
a “revolução verde” desenvolveu até a sua exaustão.
Não é difícil entender que a
produção agrícola está sujeira às leis naturais, conhecidas ao menos desde que
Darwin escreveu a Origem das espécies,
e que não é possível contrariá-las sem destruir os processos naturais de
produção da vida. A questão da produtividade assim entendida é completamente distinta
daquela que “isola” um cultivo do meio-ambiente, pela criação de uma barreira
artificial de agrotóxicos que, além do mais, se propagam através dos produtos
orgânicos até a ponta do consumo humano.
Reverter esse processo no
momento em que a “revolução verde” atingiu seus limites exige o esforço pela
construção de um novo modelo, uma nova lógica de produção, distribuição e
consumo – enfim, uma nova cultura - que o agronegócio brasileiro está longe de
pretender liderar. Tornam-se então os
seus representantes um obstáculo nesse caminho e, como tal, precisam ser
combatidos.
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