O QUE FAZER? - I
Dentre as várias pautas políticas temporariamente derrotadas
na última eleição, um número significativo situa-se no plano dos valores e
comportamentos na sociedade brasileira, isto é, no plano mais ideológico do que
prático.
É preciso reconhecer que vivemos numa sociedade mais
conservadora do que imaginado pelos atores políticos de classe média que
privilegiaram, em grande medida, lutas como o feminismo, a igualdade de
direitos das pessoas LGBT, a afirmação do “lugar da fala” dos negros, etc.
No plano da propaganda criou perplexidade o modelo de
comunicação baseado na multiplicidade e atomização, expressa pelo FB e
whatsapp, em oposição à centralização discursiva dos partidos políticos – sendo
notável a eficácia maior de um “modelo pastoral” adotado pelas lideranças evangélicas.
Por onde, então, retomar a luta pelas liberdades
democráticas, para encaminhar o país para um futuro de igualdade e fraternidade?
Desde logo, é bom reconhecer que
várias das transformações em valores e comportamentos estão intimamente ligadas
às transformações das bases materiais da sociedade. Não se pode solidarizar as
pessoas em torno de relações de espoliação.
Portanto, é preciso hierarquizar as
lutas, diferenciando aquelas que trabalham pelas mudanças nas relações de
produção daquelas que visam um “acabamento” no plano dos valores culturais. O
que une as duas ordens é a busca da solidariedade nas relações sociais (homem/homem),
especialmente de caráter produtivo, e na
relação homem/natureza. O metabolismo social e o metabolismo homem/natureza de qualidade solidária têm prioridade como
objetivos a perseguir.
Eles se contrapõem, portanto, à destruição de
direitos trabalhistas, arrancados com muita luta e garantidos pelo Estado; e se
contrapõem à destruição e contaminação da natureza que se volta contra a saúde humana
e contra a reposição dos pressupostos naturais da produção.
Em síntese: a
defesa dos brasileiros e dos seus meios de vida definem o eixo estruturante do
que se necessita como diretriz de luta democrática daqui em diante, no quadro
de regressão civilizacional a que fomos atirados.
Isso coloca as pautas trabalhistas
e ambientalistas, simultaneamente, na ordem do dia. São elas que, entre as
demais, mais claramente apontam para a intervenção transformadora nas práticas
de produção, apontando para um horizonte social igualitário e para um
metabolismo homem/natureza regido pelas leis naturais.
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