No próximo dia 27, na hora do almoço, na Praça da
República, ocorrerá um novo Banquetaço em São Paulo. O primeiro aconteceu há
pouco mais de um ano, quando derrotamos as pretensões do prefeito João Dória de
implantar nas escolas municipais e para as populações de rua o uso de um
alimento ultra-processado, apelidado de “Farinata”. O repúdio público levou a
prefeitura a engavetar o plano mirabolante.
Agora, um segundo Banquetaço se faz como protesto pela
extinção do Consea pela MP 870 que Bolsonaro assinou no primeiro dia do seu
mandato.
O Consea é um organismo de aconselhamento da Presidencia no
que diz respeito às políticas de alimentação e saúde. Uma conquista do
movimento democrático que, desde os anos 1990, vem sustentando a formulação de
políticas públicas nessa área. A institucionalização dessas pressões, através
do Consea, é o que o presidente pretende liquidar.
Quando não há diálogo em prol do bem dos brasileiros,
vai-se às ruas. E hoje somos mais de 1.000 ativistas, em cerca de 20 estados da
federação e cerca de 40 cidades que, no mesmo dia 27, servirão aproximadamente
12 mil refeições em espaços públicos para congraçamento entre a população e
aqueles que lutam pela alimentação de qualidade em todos os fronts políticos.
Se compararmos o episódio da “Farinata” com esse, crescemos mais de 10 vezes em
um ano! E por que?
Simplesmente porque o fechamento dos canais de negociação e
concertação com o Estado estão totalmente bloqueados. É preciso, então, romper
barreiras, encontrar novas formas de organização, mostrar que a esperança
sempre pode assumir formas surpreendentes. É uma espécie de “ninguém solta a
mão de ninguém” nacional, de caráter prático, e mostrando que o caminho da “comida
de verdade” está posto à mesa, para congraçamento, anunciando um futuro que
pode ser muito melhor em termos de alimentação.
As pessoas se mobilizam voluntariamente. O voluntariado é a
“ideologia” que as conduz sem serem enquadradas em partidos políticos. A doação
de viveres faz a riqueza a ser partilhada. O trabalho, também doado, dá a forma
desejada desses alimentos. Repito: mais de 1000 pessoas estão, nesse momento,
trabalhando para que a coisa aconteça.
É claro que, no momento seguinte, teremos que refletir
sobre esse fenômeno de mobilização que se espalhou como um rastilho de pólvora.
Ele permitiu vermos que companheiros de todos os cantos estão com o mesmo
entendimento e com energia e entusiasmo enormes para resistir e avançar. Talvez
possamos, no futuro, fazer um Consea nacional que prescinda totalmente da
participação do governo. Afinal, se ele nos dá as costas também podermos dar a
ele e caminharmos utilizando outras formas de pressão que tem por base a
participação popular.
Num horizonte de desalento político essa é um centelha de
esperança que pipoca aqui e ali. E, como diz Caetano Veloso, “de repente tudo
mudou”.
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