22/02/2019

Banquetaço novo




No próximo dia 27, na hora do almoço, na Praça da República, ocorrerá um novo Banquetaço em São Paulo. O primeiro aconteceu há pouco mais de um ano, quando derrotamos as pretensões do prefeito João Dória de implantar nas escolas municipais e para as populações de rua o uso de um alimento ultra-processado, apelidado de “Farinata”. O repúdio público levou a prefeitura a engavetar o plano mirabolante.

Agora, um segundo Banquetaço se faz como protesto pela extinção do Consea pela MP 870 que Bolsonaro assinou no primeiro dia do seu mandato.

O Consea é um organismo de aconselhamento da Presidencia no que diz respeito às políticas de alimentação e saúde. Uma conquista do movimento democrático que, desde os anos 1990, vem sustentando a formulação de políticas públicas nessa área. A institucionalização dessas pressões, através do Consea, é o que o presidente pretende liquidar.

Quando não há diálogo em prol do bem dos brasileiros, vai-se às ruas. E hoje somos mais de 1.000 ativistas, em cerca de 20 estados da federação e cerca de 40 cidades que, no mesmo dia 27, servirão aproximadamente 12 mil refeições em espaços públicos para congraçamento entre a população e aqueles que lutam pela alimentação de qualidade em todos os fronts políticos. Se compararmos o episódio da “Farinata” com esse, crescemos mais de 10 vezes em um ano! E por que?

Simplesmente porque o fechamento dos canais de negociação e concertação com o Estado estão totalmente bloqueados. É preciso, então, romper barreiras, encontrar novas formas de organização, mostrar que a esperança sempre pode assumir formas surpreendentes. É uma espécie de “ninguém solta a mão de ninguém” nacional, de caráter prático, e mostrando que o caminho da “comida de verdade” está posto à mesa, para congraçamento, anunciando um futuro que pode ser muito melhor em termos de alimentação.

As pessoas se mobilizam voluntariamente. O voluntariado é a “ideologia” que as conduz sem serem enquadradas em partidos políticos. A doação de viveres faz a riqueza a ser partilhada. O trabalho, também doado, dá a forma desejada desses alimentos. Repito: mais de 1000 pessoas estão, nesse momento, trabalhando para que a coisa aconteça.

É claro que, no momento seguinte, teremos que refletir sobre esse fenômeno de mobilização que se espalhou como um rastilho de pólvora. Ele permitiu vermos que companheiros de todos os cantos estão com o mesmo entendimento e com energia e entusiasmo enormes para resistir e avançar. Talvez possamos, no futuro, fazer um Consea nacional que prescinda totalmente da participação do governo. Afinal, se ele nos dá as costas também podermos dar a ele e caminharmos utilizando outras formas de pressão que tem por base a participação popular.

Num horizonte de desalento político essa é um centelha de esperança que pipoca aqui e ali. E, como diz Caetano Veloso, “de repente tudo mudou”.

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