Ontem se comemorou, no restaurante Vista, um ano de existência com um menu degustação a “oito mãos”. Além
de Marcelo Bastos, Rodrigo Isaias do Benedita;
Fábio Vieira, do Micaela; Gustavo
Rodrigues, do Quibebe.
Não sou fã dessas coisas a muitas mãos. Sempre me
parece um expediente mais mercantil do que gastronômico. No caso, pareceu uma
exceção a essa regra. E o leitor poderia achar que sequer sou isento para
pensar diferente – já que, além de amigo, escrevi com Marcelo o livro sobre a Culinária Caipira da Paulistânia. Mas
havia um esforço em se passar da harmonia à sinfonia que me pareceu um bom
passo.
Para mim, os destaques foram os frutos do mar. E peixe é coisa que exige ciência... Fábio Vieira
se ofereceu em ritual antropofágico, metonímico, através de uma vieira grelhada sobre molho
hollandaise, ovas de salmão e lakyo. Bem bom, se bem que eu diminuiria um pouco
a acidez da hollandaise (idiossincrasia minha). Marcelo, com aquele seu pé de admiração pela cozinha japonesa,
mandou um carapau cru com alho e gengibre, ao qual eu acrescentaria mais umas
partículas de sal (idiossincrasia minha). Last, but not least,
Gustavo Rodrigues um filé de peixe em “molho de lagostin” (que é como ele chama
a sauce Nantua) e farofa de castanha
do Pará. Por ende, Isaias nos trouxe
uma costelinha de porco com purê de canjica e farofa de limão. Bem bom. O mais
eram adereços de entrada: mini acarajé com vatapá e mini abará com caruru
(Rodrigo Isaias), e o caldinho de siri com pimenta de cheiro do Marcelo. Uma evocação do país que, afinal, ainda não acabou.
Mas, então, o que foi excepcional? No conjunto, sentia-se
uma cozinha multiautoral ao mesmo tempo que madura e consolidada em torno dos peixes e
vieira. Fiquei imaginando que os três autores, se abrissem um restaurante de
frutos do mar, estariam predestinados ao sucesso. Por que isso aconteceu?
Porque em vez de procurarem “brilhar” através da autoria solo, construíram algo
que falava em uníssono de modo sinfônico.
Me impressiona muito, e positivamente, quando se consegue
superar o marco da competição pela colaboração. Em tempos de MasterChef o que
temos é uma metáfora culinária bolsonarista: em vez da cooperação, busca-se
eliminar o outro. Pois esses jovens
cozinheiros mostraram que é possível olhar para uma sociedade cujo horizonte é
o reencantamento do mundo, ainda que de modo efêmero à mesa. Aquelas 8 mãos não
compunham 4 egos irredutíveis. Mas um mutirão pelo bom, pelo belo e pelo
agradável.Gostei muito.
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